Economia

Brasil será maior produtor de soja até 2025

A desvalorização do real deve permitir um aumento das vendas no curto prazo


	Soja: a desvalorização do real deve permitir um aumento das vendas no curto prazo
 (Camila Domingues/Palácio Piratini)

Soja: a desvalorização do real deve permitir um aumento das vendas no curto prazo (Camila Domingues/Palácio Piratini)

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Da Redação

Publicado em 4 de julho de 2016 às 12h39.

Genebra - O Brasil será o maior produtor de soja do mundo nos próximos dez anos e irá superar os EUA. Mas os exportadores nacionais não devem esperar por mais uma era de preços elevados de commodities.

A constatação faz parte do informe sobre o futuro da agricultura no mundo até 2025 produzido pela FAO e que destaca que o Brasil responderá por uma parte significativa da expansão agrícola nos próximos dez anos.

A desvalorização do real deve permitir um aumento das vendas no curto prazo. Mas será compensada por uma estagnação de preços por uma década em diversos setores.

O abastecimento do mercado global dependerá em 80% de um aumento de produtividade no campo. Mas a projeção aponta para a ocupação de 42 milhões de hectares de terras extras no mundo para a produção agrícola até 2025, uma expansão de apenas 4% em relação ao montante usado em 2015.

E isso ocorrerá em grande parte por conta da expansão da fronteira agrícola no Brasil e Argentina. Juntos, os dois países serão responsáveis por perto de 20 milhões de hectares extras plantados.

"A América Latina continua sendo a maior fonte de expansão de área agrícola no mundo, com um total de aumento de 25% e com a soja liderando a maioria dessa expansão ", indicou a FAO.

"O Brasil vai se transformar no produtor mais importante de soja até 2025, com uma produção atingindo 135 milhões de toneladas", disse a entidade, apontando que o volume será suficiente para abastecer tanto o setor de óleos vegetais como proteína para animais.

No Brasil, a aquacultura deve sofrer uma expansão de 40% até 2025, enquanto o algodão promete ser um dos destaques da década.

"As exportações do Brasil devem dobrar de 700 mil toneladas de algodão para 1,5 milhões, fazendo do Brasil o segundo maior exportador do mundo", disse a entidade. Segundo a FAO, a China continuará sendo o maior importador do mundo.

Açúcar

Segundo as projeções da FAO, a queda do real deve ainda ajudar o setor do açúcar no Brasil. "O setor tem sofrido problemas financeiros por anos, mas irá se beneficiar da debilidade do real", indicou.

A entidade estima que a proporção da produção nacional que irá para o etanol deve ser reduzida, para cerca de 57%. No mundo, a proporção do açúcar ao combustível, porém, deve aumentar de 20,7% para 22,3% até 2025.

Num primeiro momento, a FAO estima uma queda da participação do Brasil no mercado mundial de açúcar. Mas, até 2025, o País voltará a ocupar 41% do mercado.

A entidade aponta que, com a queda na produção desde 2013, o superávit mundial no setor deve acabar, também levado pelo aumento do consumo. Se no Brasil, Austrália e Rússia a produção continuará a se expandir, ela vai sofrer uma redução na Índia e UE.

Assim como em outros setores, a FAO não estima um aumento de preços que acompanhe o incremento na produção. Mas, com um real desvalorizado, o Brasil pode ser beneficiado.

No segmento do etanol, o mercado mundial deve continuar a ser dominado por EUA e Brasil. Por conta da demanda doméstica, a produção nacional deve ser elevada em 25%, enquanto os EUA devem ser uma queda.

A FAO prevê uma expansão maior nos preços do etanol na próxima década. Mas isso graças à recuperação nos preços do barril do petróleo.

A FAO também destaca como a participação do Brasil nas exportações de carne deve chegar a 26%, "contribuindo por quase metade da expansão esperada nas vendas de carnes no mundo durante o período projetado".

Preços. Se em vários segmentos as projeções são positivas para o campo no Brasil, a entidade também estima que, no mercado global, a era de preços elevados para o setor agrícola não deve voltar até 2025.

"A principal razão é a desaceleração nas taxas de crescimento em economias emergentes", indicou a FAO. A queda no ritmo de expansão da China continuará a ter um impacto diante da constatação de que Pequim continuará sendo o maior importador para várias das commodities.

A projeção também aponta para uma perda de força no crescimento da população mundial e mesmo da tendências de famílias de alocar maior volume de recursos para itens não-alimentares.

Outro alerta da FAO se refere ao fato de que o protecionismo agrícola deve aumentar justamente nesses novos mercados asiáticos e que tem sido o motor do crescimento do setor.

"Enquanto o protecionismo cai na maioria dos países ricos, várias economias emergentes (incluindo China, Índia e Indonésia) tem buscado objetivos de autosuficiência associados com proteção a importações", disse.

O mercado também deve se estabilizar por conta de um equilíbrio entre o consumo e a produtividade, levando a "mercados agrícolas mais restritos ".

" Com o fornecimento e demanda equilibrados, os preços reais dos produtos agrícolas devem ficar estagnados ", disse a FAO. " O aumento da demanda para alimentos deve ser satisfeito por meio de ganhos de produtividade e um aumento modesto da área produzida ", indicou.

Mesmo registrando uma expansão mais lenta, os mercados emergentes devem continuar a liderar a expansão do consumo mundial. O perfil do consumo, porém, deve mudar, com maior atenção para açúcar, óleos vegetais e menos cereais ou proteínas.

O consumo de carnes também deve aumentar, enquanto a demanda per capta em peixes nos países em desenvolvimento deve superar o consumo nos países ricos até 2025.

Outra consequência de preços estáveis na agricultura deve ser a queda no número de famintos no planeta.

A projeção é de que haja uma redução dos atuais 800 milhões de pessoas afetadas pela forme para cerca de 650 milhões em dez anos. Isso representará uma queda de 11% para 8% a proporção da população mundial em situação de má-nutrição.

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