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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h04.
Os títulos bradies remanescentes no mercado somam 6,64 bilhões de dólares. O governo irá quitar essa dívida em abril com dinheiro das reservas internacionais brasileiras, que hoje estão em torno de 56 bilhões de dólares, volume considerado seguro por especialistas para o pagamento de dívidas. "Como reserva internacional, esse dinheiro rende muito pouco, pois é remunerado por bancos de primeira linha, que têm juros baixos. É mais negócio usar o dinheiro para quitar dívidas, estas sim, atreladas a juros altíssimos", afirma Chauar.
Boa fase
O governo está aproveitando o momento ideal para recomprar esses títulos. Não apenas as reservas internacionais estão em um de seus melhores níveis, como também o mercado internacional passa por uma fase favorável. Outros países, como o México, já quitaram todas as suas dívidas em Bradies.
Para a economista Daniela Prates, da Universidade de Campinas (Unicamp), esta é uma ótima iniciativa do governo. Ela lembra que os Bradies, por estarem atrelados ao calote dos anos 80, têm uma imagem ruim entre os investidores. "Por serem títulos caros e ligados à moratória, eles acabam contaminando o risco-país", diz a professora.
Não se trata, porém, apenas de uma questão de imagem. Na prática, a recompra total dos Bradies pode aliviar a pressão sobre o dólar. A equipe econômica não considera esse o motivo principal, mas ao utilizar parte das reservas para quitar dívidas, o governo também está promovendo um enxugamento da moeda americana presente no país. "Ainda que indiretamente, a medida deve ajudar a frear a queda do dólar", afirma Daniela.
Momento histórico
Criado na década de 80 pelo então secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Nicholas Brady, os títulos Bradies tornaram-se comuns principalmente entre países latino-americanos, como México e Brasil, que decretaram a moratória. O objetivo do Plano Brady era melhorar o perfil da dívida desses países ao atrelá-los a títulos do Tesouro americano. A ajuda americana visava, na prática, a estabilização do mercado financeiro internacional, cuja crise já prejudicava os investidores norte-americanos.
No caso brasileiro, os títulos Bradies só foram emitidos em 1994, quando Fernando Henrique Cardoso estava à frente do Ministério da Fazenda. Na época, ficou acertado o refinanciamento de parte da dívida total, ou 49 bilhões de dólares. Os Bradies - que serão quitados antecipadamente pelo Tesouro Nacional - são o último resquício dessa dívida.