A presidente Dilma Rousseff: entre as reuniões previstas, estão encontros com Angela Merkel e Alexis Tsipras (REUTERS/Bruno Domingos)
Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2015 às 07h04.
Paris - A presidente Dilma Rousseff vai propor hoje que a troca de ofertas entre o Mercosul e a União Europeia visando um acordo de livre comércio aconteça até julho.
O pedido será feito nesta quarta-feira, 10, e quinta-feira, 11, durante reuniões bilaterais com líderes europeus presentes à reunião de cúpula entre UE e Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que começa em Bruxelas, na Bélgica.
Entre as reuniões previstas, estão encontros com Angela Merkel e Alexis Tsipras.
A revelação sobre a proposta de troca de ofertas foi feita pela ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, na chegada da delegação brasileira à capital belga.
Dilma vai discursar hoje na Comissão Europeia, na primeira sessão de trabalho da cúpula, que reunirá representantes de 61 países.
Nessa oportunidade, a presidente vai pedir que a troca de ofertas aconteça até o final de 2015.
Mas, nas reuniões bilaterais que Dilma terá em Bruxelas, ela solicitará empenho da União Europeia para que a troca aconteça até julho, acelerando as negociações.
"No discurso ela vai pedir para este ano", explicou Kátia Abreu.
"Ela quer fazer a troca de ofertas. Nas bilaterais ela vai pedir a troca de ofertas. Nós vamos estar prontos."
Questionada sobre a posição da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, até aqui reticente sobre avançar no acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul, Kátia Abreu ressaltou que o governo brasileiro está disposto a avançar mesmo sem a cooperação dos vizinhos.
"Se eles quiserem ficar para trás, nós estamos prontos", disse a ministra.
"Não tem jeito. Politicamente para ela (Cristina) ficar para trás hoje é muito ruim. Seria o ideal aceitar, mas se não quiser aceitar, ou vem ou vai ficar."
Em entrevista publicada na terça-feira pelo jornal belga Le Soir, Dilma exortou a União Europeia a agir para acelerar as negociações entre os dois blocos econômicos.
"Nossas relações comerciais podem dar um salto graças à proposta comercial que o Mercosul fez à União Europeia para chegar a um acordo e livre comércio nos próximos meses", argumentou.
"Completar essa relação é nossa prioridade em 2015. Isso não depende de nós, mas da vontade da União Europeia."
Nesta quarta-feira, Dilma terá encontros bilaterais com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, com os primeiros-ministros da Bélgica, Charles Michel, da Grécia, Alexis Tsipras, e da Bulgária, Rosen Plevneliev, e com o presidente do Conselho da União Europeia, Donald Tusk.
É nessas reuniões que a presidente enfatizará a necessidade de acelerar as negociações e trocar as ofertas até julho.
A postura enfática do governo brasileiro contrasta com o estado de ânimo de negociadores e empresários europeus, que demonstram menos confiança na assinatura de um acordo entre UE e Mercosul.
Em Bruxelas, eles têm enfatizado a necessidade de aumentar o comércio entre a Europa e o Brasil, mesmo sem a formalização da área de livre comércio.
Na terça-feira, o diretor da Unidade de América Latina da Direção-geral de Comércio da Comissão Europeia, Matthias Jorgensen, e também representantes patronais lamentaram a lentidão das negociações.
"Nós vemos uma série de políticas bem-intencionadas da parte do Brasil. Não duvidamos disso", ponderou Jorgensen, sem no entanto esconder o pessimismo.
"Mas como alguns de vocês notaram, essas negociações estão em curso há 16 anos. Nós queremos que avancem, mas a questão é: os recursos hoje em dia são limitados. Precisamos ter a certeza de que, se colocarmos recursos, vamos chegar a resultados práticos."
Ao Estado, um alto negociador europeu afirmou na terça-feira que essa hipótese não está na mesa, e que fixar uma data para o final das negociações é uma iniciativa que perdeu credibilidade.
"Nós já fixamos uma data em 2013 e não funcionou", afirmou o negociador.
Questionado sobre se o Mercosul e o Brasil estão perdendo espaço na agenda da União Europeia, que negocia também com os Estados Unidos e o Japão, o executivo afirmou:
"Estamos tentando não criar uma escala de prioridades, porque acreditamos que essas negociações podem acontecer em paralelo. Mas quanto mais uma negociação demora " (Andrei Netto)