Cana de açúcar: empresas brasileiras estão mantendo níveis de produção e podem afetar oferta global, devido à seca em outros países produtores (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 6 de junho de 2016 às 13h35.
A recuperação dos preços do petróleo deste ano fez uma vítima improvável: a sobremesa.
Para entender, basta olhar o exemplo da processadora de cana-de-açúcar Usina Batatais, de São Paulo.
Devido às margens atraentes do combustível, a empresa está usando a safra maior de cana para produzir mais etanol e deixando seu volume de produção de açúcar bruto inalterado.
Mesmo após o aumento recente dos preços do açúcar, “já não há mais tempo, nem cana” para fazer uma troca, disse o presidente da Batatais, Bernardo Biagi.
Esta é uma história que se repete pelo Brasil, o maior produtor e exportador mundial de açúcar. Isto poderia piorar o déficit global de oferta após o clima seco ter prejudicado as safras da Índia e da Tailândia, a segunda maior exportadora.
Os preços estão sendo negociados próximos do nível mais alto em quase dois anos e os hedge funds estão fazendo uma aposta recorde na continuidade da alta.
“As margens do etanol foram boas e isto levou mais açúcar em direção à indústria do etanol”, disse Arlan Suderman, economista-chefe para commodities da INTL FCStone Financial em Kansas City, Missouri, nos EUA.
“Se você analisa a produção global de açúcar, a região Centro-Sul do Brasil é, realmente, o único ponto positivo da produção mundial no momento. Portanto, o mundo está olhando para ela”.
O açúcar bruto subiu 23 por cento neste ano, para 18,75 centavos de dólar a libra, na ICE Futures U.S., em Nova York. Na sexta-feira, os preços chegaram a 18,79 centavos de dólar, nível mais alto desde 23 de junho de 2014.
Os hedge funds e outros grandes especuladores aumentaram suas posições compradas na commodity em 4,9 por cento, para 222.686 futuros e opções dos EUA, na semana que terminou em 31 de maio, mostraram dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA três dias depois. É o nível mais alto desde o início dos dados, em 2006.
Analistas e traders também estão esperando mais aumentos de preço. Os futuros poderiam chegar a 19,9 centavos de dólar até o fim do ano, segundo a média de 15 estimativas de uma pesquisa da Bloomberg News.
Mais da metade dos participantes previram que o açúcar tocará a casa dos 20 centavos de dólar, que seria o preço mais elevado desde outubro de 2013.
“Os problemas climáticos e o déficit manterão o mercado com tendência de alta”, disse Donald Selkin, estrategista-chefe de mercado da National Securities em Nova York, que ajuda a gerenciar cerca de US$ 3 bilhões.
Ele prevê que os futuros de julho atingirão 20 centavos de dólar em algumas semanas.