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Brasil precisa de política industrial, diz Stiglitz

A afirmação foi feita no Senado, em Brasília. Stiglitz é Nobel de Economia e ex-economista-chefe do Banco Mundial

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Da Redação

Publicado em 19 de junho de 2012 às 13h33.

Brasília - O vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz, acredita que um país como o Brasil, com grande potencial científico , precisa de políticas que orientem seu crescimento. Política industrial é elemento essencial de qualquer política de desenvolvimento , disse o economista, referindo-se a países com as características do Brasil. Segundo ele, há experiência internacional suficiente, reunida principalmente ao longo dos últimos 20 anos, que permitem a definição de políticas eficientes. "Temos aprendido lições que permitem evitar erros na política industrial" , afirmou, em palestra Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.

Stiglitz foi economista-chefe do Banco Mundial, conselheiro na gestão do presidente americano Bill Clinton e atua como professor de economia na Universidade Columbia. Seu mais recente livro, A Globalização e seus Descontentes , resulta de reflexões sobre a disparidade de desenvolvimento entre as nações e os efeitos que políticas adotadas por países desenvolvidos podem ter no agravamento da pobreza do Terceiro Mundo. Ele ministrou palestra na Enap (Escola Nacional de Administração Pública), na terça-feira (26/8) à noite.

O economista insistiu no papel do governo como indutor de desenvolvimento. Segundo ele, o Estado tem papel fundamental como regulador e árbitro de setores privatizados no Brasil. Nos EUA, ele atribuiu a série de escândalos contábeis, como o da Arthur Andersen, à excessiva desregulamentação.

Stiglitz informou que, nos Estados Unidos, 25% do crédito concedido provém direta ou indiretamente de órgãos governamentais. Os próprios órgãos responsáveis por melhorar a gestão das pequenas empresas também têm verba para emprestar. Esse dado pode não combinar exatamente com a imagem que vocês têm dos Estados Unidos, como um país de livre mercado , afirmou, após lembrar que grandes empresas, como a Federal Express, nasceram com créditos governamentais.

O economista, porém, disse que é preciso diferenciar os dois tipos de crédito: o que se destina a negócios que gerarão empregos, que deve ser favorecido, daquele que se destina apenas a comprar empresas que já existem. Há perigo também em permitir que bancos estrangeiros comprem todos os bancos nacionais, porque haverá impacto no crédito concedido a pequenas empresas , afirmou.

Ainda no campo das ações governamentais, Stiglitz afirmou que o microcrédito conseguiu elevar a renda da população mais pobre em Bangladesh, onde foi criado. No entanto, ressalvou, a concessão do crédito precisa funcionar como uma reforma agrária: tem de ser acompanhada por capacitação técnica e facilitação do acesso a tecnologia, para ter real efeito nas microempresas.

Quando questionado sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), Stiglitz afirmou que os países menos desenvolvidos deveriam ter permissão para subsidiar suas indústrias. Os termos da área de livre comércio deveriam se destinar a reduzir desequilíbrios, distribuir riqueza e benefícios dentro dos países e entre os países. Ele criticou a excessiva ênfase na mobilidade do capital, em oposição à restrição à mobilidade da mão-de-obra.

Qualquer acordo de livre comércio das Américas deveria incluir esses pontos , disse o palestrante, acrescentando que um acordo de livre comércio realmente justo seria muito benéfico para o Brasil . Sem fazer referência explícita à União Européia, ele lembrou que já houve casos anteriores de acordos que tentaram diminuir a disparidade de desenvolvimento entre seus integrantes.

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