Notas de dólar: o BC tem sido especialmente silencioso nas últimas semanas (Marcos Santos/USP Imagens/Fotos Públicas)
Da Redação
Publicado em 13 de março de 2015 às 23h51.
Rio de Janeiro - Autoridades brasileiras têm escolhido enfrentar a depreciação cambial mais rápida do mundo com uma estratégia inesperada - não fazer nada, em silêncio.
O dólar já avançou quase 15 por cento contra o real apenas em março, o que faz da moeda brasileira aquela com pior desempenho entre as 152 moedas monitoradas pela Reuters.
Outras moedas de mercados emergentes também têm sofrido, com investidores se antecipando à iminente elevação de juros do Federal Reserve.
Mas o real foi o mais afetado, refletindo a apreensão e investidores com a economia em contração, o alto déficit em conta corrente e o escândalo de corrupção, que têm chacoalhado o governo da presidente Dilma Rousseff.
Em vez de ativamente tentar administrar o valor do real, como Dilma fez durante a maior parte dos quatro anos de seu primeiro mandato, seu governo e o Banco Central parecem ter decidido que o enfraquecimento da moeda vai reviver a economia, ou que não conseguirão lutar contra o mercado.
Ou, mais provavelmente, ambos.
"A estratégia é clara: eles não querem deixar o real sobrevalorizado", disse o economista-chefe para a América Latina do ING em Nova York, Gustavo Rangel. "Mesmo porque não tem muito mais o que o BC pode fazer".
O BC tem sido especialmente silencioso nas últimas semanas, com autoridades negando pedidos para discutir o câmbio mesmo sob condições de anonimato. A assessoria de imprensa da autoridade monetária recusou-se a comentar sobre a estratégia da instituição.
A principal estratégia do BC para administrar o valor do real nos últimos anos tem sido a venda de swaps cambiais. Mas no fim de fevereiro, o BC sinalizou que desaceleraria a rolagem dos swaps - o que levou o dólar a subir ainda mais.
Alguns analistas acreditam que o BC poderia mudar de direção e tentar reduzir as cotações do dólar, especialmente se a escalada acelerar.
A disparada súbita poderia impulsionar ainda mais a inflação, que já está girando a 7,7 por cento ao ano - mais de um ponto percentual acima do teto da meta do BC.
"Veloz demais, furioso demais!", diz o título de uma nota do Goldman Sachs sobre o avanço do dólar contra o real publicada na manhã desta sexta-feira.
Mas, pelo menos até agora, a reação das autoridades tem sido calma - especialmente comparado com países como Turquia e Indonésia, onde a depreciação cambial desencadeou disputas políticas e reuniões urgentes no gabinete.
MUDANÇA DE POSTURA
Dilma tem tentado adotar uma filosofia mais liberal em seu segundo mandato, que teve início em janeiro, para recuperar a confiança de investidores que a acusaram de ser intervencionista demais.
Seu novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, formado pela Universidade de Chicago e muito mais ortodoxo do que seu antecessor, disse pouco após assumir o cargo em janeiro que o governo não estava tentando manter o real artificialmente valorizado.
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse em 6 de março que a alta do dólar deve ajudar a indústria local a se tornar mais competitiva.
O vice-presidente de investimentos para mercados emergentes do UBS Wealth Management, Jorge Mariscal, disse esperar que o dólar permaneça a 3,20 reais ao longo dos próximos seis meses, para então cair a 3 reais.
Mas os riscos de fortalecimento da moeda norte-americana são abundantes, advertiu, especialmente se Levy não conseguir implementar seus planos de cortes orçamentários para reduzir o déficit fiscal.
Mesmo assim, a capacidade do BC de amparar o real, mesmo se essa fosse sua intenção, tornou-se mais limitada.
O BC já levou a Selic à máxima em seis anos de 12,75 por cento. Seu programa de swaps cambiais tem ficado cada vez mais caro - custou 17 bilhões de reais em 2014, aumentando o déficit orçamentário brasileiro.
A maioria dos analistas acredita que o BC deve estender o programa para além deste mês. No entanto, não esperam que a oferta de swaps seja elevada.
Vender dólares das reservas internacionais do Brasil não é aconselhável porque poderia desencadear um rebaixamento soberano, advertiu Rangel, do ING. "O soberano está mais vulnerável", acrescentou.