Economia

Brasil e Reino Unido criam canal para negociar acordo de livre comércio

Representantes dos dois países assinam memorando para criação de comitê agrícola bilateral

Brasil - Reino Unido: os britânicos disseram estar preocupados com o uso de produtos de nações com alto risco de desmatamento (Sezer ozger/Getty Images)

Brasil - Reino Unido: os britânicos disseram estar preocupados com o uso de produtos de nações com alto risco de desmatamento (Sezer ozger/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 11 de fevereiro de 2021 às 14h39.

Brasil e Reino Unido deram o primeiro passo para iniciar negociações para um acordo de livre comércio, enquanto o avanço em um entendimento com a União Europeia segue travado por resistência de alguns membros do bloco, como a França.

O canal de diálogo entre os dois países será um comitê agrícola bilateral. O colegiado foi criado nesta quinta-feira, com a assinatura de um memorando entre a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o secretário do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais daquele país, George Eustice, que participaram de cerimônia virtual.

Segundo o secretário de relações internacionais do Ministério da Agricultura, Orlando Ribeiro, antes da saída dos britânicos da União Europeia (UE) — o Brexit — qualquer discussão sobre comércio com outros países teria de passar pelo bloco europeu.

Agora ficará mais fácil corrigir problemas e melhorar o fluxo de comércio de bens e serviços entre empresas brasileiras e britânicas. Mas Ribeiro sabe que o nível de exigência do Reino Unido será o mesmo da UE. O novo comitê servirá para resolver pendências.

— Mesmo afastado da UE, o Reino Unido manterá os mesmos padrões sanitários e as mesmas preocupações com o meio ambiente. Mas agora teremos um canal que não existia — disse o secretário.

Em setembro do ano passado, o Reino Unido e a União Europeia divulgaram consultas públicas, para implementar medidas contra empresas que importam de países que cometem crimes ambientais.

Os britânicos, especificamente, disseram estar preocupados com o uso de produtos de nações com alto risco de desmatamento e, por isso, querem elaborar uma nova lei proibindo as importações de empresas localizadas nesses mercados. Citaram Brasil e Indonésia como exemplos. O processo ainda não foi concluído.

— Se algo for cobrado, a ministra dirá que o Brasil é um país que se importa com o meio ambiente, tem uma matriz energética limpa e uma agricultura sustentável. Mas o tema é tratado no Ministério do Meio Ambiente e Itamaraty — disse Ribeiro.

No caso da União Europeia, Ribeiro informou que a fase atual é de análise jurídica dos documentos e que, ainda neste semestre o acordo será assinado pelos líderes dos dois blocos. Em uma segunda etapa, o tratado será votado nos parlamentos. Ele esclareceu que a parte comercial está fechada será possível discutir alguma declaração adicional na parte política do tratado.

No evento, a ministra convidou as autoridades britânicas a visitarem Brasil e conhecerem os projetos de sustentabilidade do agro, pouco conhecidos no exterior, como o Programa de Bioinsumos. Ressaltou que há, no Plano Safra, linhas de crédito para ações de sustentabilidade. A visita deve ocorrer ainda este ano.

Dados do Ministério da Agricultura mostram que as exportações do setor agropecuário brasileiro para o Reino Unido cresceram 5% em valor, no comparativo 2019/2020, evoluindo de US$ 1,031 bilhão para US$ 1,087 bilhão.

Os principais produtos do exportados em 2020 foram soja, aves (frango e peru), frutas (como melões, uvas, melancias, goiabas e mangas), preparações alimentícias, conservas de origem bovina, café, açúcar e etanol.

Um acordo de livre comércio com o Reino Unido também é de interesse da indústria brasileira, que considera o Brexit uma oportunidade histórica. A avaliação é que as economias dos dois países têm alto grau de complementaridade.

Segundo uma nota da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao sair da UE, o Reino Unido está recomeçando sua política industrial do zero. Com isso, é possível negociar uma série de acordos, como livre comércio, investimentos, previdenciário e pelo fim da dupla tributação no comércio e nos investimentos.

Acompanhe tudo sobre:Comércio exterioreconomia-brasileiraReino UnidoUnião Europeia

Mais de Economia

Mesmo com alíquota de IVA reduzida, advogado pode pagar imposto maior após reforma; veja simulações

Subsídios na China fazem vendas de eletrônicos crescer até 400% no ano novo lunar

Conta de luz não deve ter taxa extra em 2025 se previsão de chuvas se confirmar, diz Aneel

Após receber notificação da AGU, TikTok remove vídeo falso de Haddad