Economia

Brasil e Argentina tentam pôr fim a crise comercial

Criação de medidas protecionistas aumentou a briga brasileira com os vizinhos

Dilma Rousseff e a colega Cristina Kirchner: disputa comercial (Alejandro Pagni/AFP)

Dilma Rousseff e a colega Cristina Kirchner: disputa comercial (Alejandro Pagni/AFP)

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Da Redação

Publicado em 23 de maio de 2011 às 18h32.

Buenos Aires - Brasil e Argentina discutiam nesta segunda-feira em Buenos Aires meios de superar a crise comercial que eclodiu devido a medidas protecionistas aplicadas mutuamente, embora a tensão tenha diminuído após a autorização concedida à passagem de mercadorias de ambos os lados da fronteira.

As negociações serão realizadas até terça-feira, lideradas pelos secretários de Indústria da Argentina, Eduardo Bianchi, e do Brasil, Alessandro Teixeira, enviados pelos governos para buscar soluções técnicas para o conflito.

A crise foi desencadeada há 10 dias quando a presidente brasileira, Dilma Rousseff, endureceu as normas para a entrada de cerca de 3.000 veículos argentinos ao aplicar a estes o sistema de licenças não-automáticas, depois de ter pedido em vão que os argentinos retirassem as barreiras às vendas de autopeças, calçados e eletrodomésticos, entre outros.

A medida atingiu a Argentina em seu ponto fraco, devido ao fato de sua indústria automotora ser uma das locomotivas do crescimento de sua economia e de 80% das exportações de veículos serem destinadas ao Brasil, registrando uma receita em 2010 de 7 bilhões de dólares, incluindo as autopeças.

A presidente argentina Cristina Kirchner reiterou que a prioridade de seu governo é a proteção dos postos de trabalho e a reindustrialização do país.

A ministra argentina da Indústria, Débora Giorgi, ressaltou na semana passada que as licenças não-automáticas impostas pela Argentina "respeitam as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC)" e disse também que o comércio bilateral é superavitário em favor do Brasil.

O saldo negativo para a Argentina superou 1 bilhão de dólares no primeiro trimestre do ano, segundo a consultoria Abeceb.com.

"Houve uma mini-retaliação, mas não tem nenhum alcance estratégico. Evidentemente, não estávamos gostando que esse mecanismo de licenças não-automáticas estivesse incidindo sobre produtos brasileiros", disse à imprensa paulista Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Rousseff.

A Argentina é o terceiro sócio comercial do Brasil, atrás de China e Estados Unidos, e o volume bilateral de transações atingiu os 33 bilhões de dólares em 2010, com um superávit para o Brasil de pouco mais de 4 bilhões.

"Nunca antes a represália comercial do Brasil foi tão severa. Embora a medida afete a todos os países fornecedores, a Argentina é a mais atingida", indicou em um relatório a consultoria privada Ecolatina.

O ministro brasileiro da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, havia assegurado que a decisão de aumentar as restrições aos produtos argentinos vinha sendo estudada "há algum tempo", mas negou que tenha se originado em uma irritação de Rousseff.

Fontes da indústria argentina ressaltaram, no entanto, que nas últimas horas seus veículos começaram a entrar no Brasil, da mesma forma que pneus e baterias brasileiras começavam a atravessar a fronteira em um gesto mútuo de distensão.

"A Argentina já não pode competir com o Brasil. Não aguenta uma taxa de câmbio do real alta. A grande maioria das grandes empresas estabeleceram suas maiores fábricas no Brasil", considerou o economista e consultor de empresas Orlando Ferreres.

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