Colheita de soja: muito ainda pode mudar e os agricultores enfrentam um cenário desafiador, diz especialista (Camila Domingues/Palácio Piratini)
Da Redação
Publicado em 29 de maio de 2015 às 16h22.
São Paulo - Os agricultores brasileiros provavelmente vão expandir a área plantada com soja pelo nono ano consecutivo, segundo analistas e representantes de produtores, mesmo com os preços da principal safra do país tendo recuado um quarto ante os valores de um ano atrás.
No início deste ano, alguns analistas disseram que a combinação de baixos preços da soja e aumento dos custos de sementes e fertilizantes poderia levar os agricultores a não avançarem em novas áreas em 2015/16, pela primeira vez em quase uma década.
A maioria agora mudou suas opiniões.
"Não consigo ver neste momento um recuo na área", disse o analista de soja da Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez. Ele destacou que os preços do milho e algodão estão ainda mais baixos do que a soja.
Gutierrez estima um pequeno aumento de 2 por cento na área da próxima safra de soja, com plantio iniciado em setembro, o que seria o menor aumento anual desde 2006. Naquele ano, foi a última vez que a área de soja diminuiu no Brasil, um dos poucos países com terra disponível para expandir a atividade agrícola de forma significativa.
A perspectiva de que mais soja do Brasil chegue ao mercado a partir do início do próximo ano, depois de safras recordes na América do Sul e nos Estados Unidos, pode aumentar a pressão sobre os preços. O Brasil é segundo produtor de soja do mundo depois dos EUA.
O contrato julho da soja na bolsa de Chicago fechou em torno de 9,34 dólares por bushel nesta sexta-feira, uma queda de 25 por cento ante o ano anterior.
O analista da consultoria AgRural Fernando Muraro espera um modesto aumento de 1,6 por cento, de 500 mil hectares no Brasil, ante os 31,5 milhões de hectares de 20114/15. Em abril, ele havia previsto área de soja estável.
Muraro mudou sua estimativa depois que uma segunda safra de milho, maior do que a esperada, pressionou os preços do cereal no Brasil, o que, segundo ele, levará os agricultores do Sul a plantar ainda mais soja para colher no verão.
Muito ainda pode mudar e os agricultores enfrentam um cenário desafiador, disse ele.
O Brasil pode ver aumento modesto na área nos Estados do Nordeste, onde há registro de crescimento de dois dígitos nos últimos anos.
"É muito aberto ainda (o cenário)", disse Muraro, acrescentando que o anúncio do governo sobre o financiamento do Plano Safra, previsto para a próxima semana, poderia ser uma virada de jogo.
O diretor da consultoria Céleres, Anderson Galvão, disse que ainda estava "apostando na estabilidade", embora a empresa ainda não tenha feito uma estimativa formal da área de soja 2015/16 ainda.
A economia do país enfrenta um quadro recessivo, limitando os recursos oferecidos pelo governo e o acesso dos agricultores ao crédito.
A incerteza também decorre do real, que enfraqueceu 30 por cento em relação ao ano passado. Os agricultores se beneficiaram de um dólar mais forte quando venderam sua safra 2014/15, mas estão perdendo parte desses ganhos ao pagar mais por defensivos e fertilizantes importados para a próxima safra.
O presidente da Aprosoja, associação que reúne agricultores de Mato Grosso, Ricardo Tomczyk, disse que os preços mais baixos da soja podem significar que investimentos em novas plantações não darão retorno e que campos antigos podem até ser abandonados no Estado.
"Vai ser um ano de consolidação mesmo, com certeza", afirmou.