Câmbio: real já se desvalorizou 7 por cento neste ano, já que a expectativa de uma menor liquidez global obrigaram empresas e bancos a procurar mais dólares (Bruno Domingos/Reuters)
Da Redação
Publicado em 24 de setembro de 2013 às 21h16.
São Paulo - As autoridades brasileiras precisam elevar os juros, cortar gastos públicos e intensificar o combate à inflação para evitar uma forte desvalorização do real quando o Federal Reserve dos Estados Unidos reduzir seus estímulos monetários, disseram dois influentes professores de economia nesta terça-feira.
Os esforços do Banco Central do Brasil para segurar a cotação do real só vão funcionar se as autoridades monetárias continuarem elevando a taxa básica de juros Selic até o ano que vem, quando o Fed (Banco Central norte-americano) começar a eliminar parte do seu programa de aquisições de títulos, disse a ex-economista do Fundo Monetário Internacional (FMI) e hoje professora da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, Eliana Cardoso.
O real já se desvalorizou 7 por cento neste ano, já que a expectativa de uma menor liquidez global obrigaram empresas e bancos a procurar mais dólares.
A moeda brasileira chegou a perder 18 por cento do seu valor entre abril e setembro, quando a confiança dos investidores foi abalada por uma série de decisões governamentais e pela deterioração nas contas públicas.
Nesta terça-feira, o dólar fechou estável ante o real, cotado a 2,20 reais.
No último mês, o BC recorreu inteiramente a intervenções nos mercados cambiais, com o objetivo de fornecer a liquidez em dólar esperada por bancos e empresas. Eliana e Eduardo Giannetti da Fonseca, professor da escola de gestão Insper, disseram que o sucesso dessa estratégia depende do ritmo de medidas do Fed, e também da contenção de gastos públicos no Brasil.
"Essa política, na minha opinião, só terá os efeitos desejados enquanto estiver acompanhada de juros mais altos", disse Eliana em um evento patrocinado pela organização não-governamental IDS. O BC promoveu quatro aumentos da Selic neste ano, chegando a 9 por cento, depois de o país registrar o menor índice real de juros da sua história.
O BC, dirigido pelo economista Alexandre Tombini, realizou neste ano um dos mais agressivos ciclos de elevação de taxas do mundo. Esse processo ameaça atrapalhar uma já lenta recuperação no crescimento da maior economia da América Latina.
Nas atas das suas últimas reuniões, o Comitê de Política Monetária do BC sinalizou que poderá voltar a elevar os juros em outubro, mas deixou dúvidas sobre se continuará o endurecimento monetário depois disso.
Giannetti da Fonseca, economista formado em Cambridge e conhecido no Brasil por seus trabalhos a respeito de filosofia e economia, disse que é "improvável que o governo deva realizar novas elevações das taxas no ano que vem, quando temos uma eleição aqui".