Economia

Brasil deve crescer ao redor de 1% em 2014, diz Delfim Netto

Segundo o ex-ministro da Fazenda, a inflação está perto do teto do sistema de metas de inflação, mas isso não significa que ela sairá do controle


	Delfim Netto: "O país está crescendo muito pouco, e isso é um grande problema"
 (ARQUIVO/WIKIMEDIA COMMONS)

Delfim Netto: "O país está crescendo muito pouco, e isso é um grande problema" (ARQUIVO/WIKIMEDIA COMMONS)

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Da Redação

Publicado em 6 de agosto de 2014 às 16h09.

São Paulo - O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto afirmou nesta quarta-feira, 06, que o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano deve registrar uma fraca expansão, ao redor de 1%.

"O país está crescendo muito pouco, e isso é um grande problema", destacou.

Na avaliação do ex-ministro, que participa do Fórum Lideranças da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), esse quadro fica mais grave porque o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) "deve ter subido 30% em quatro anos" e a inflação é "muito alta".

Segundo ele, a inflação está perto do teto do sistema de metas de inflação, mas isso não significa que ela sairá do controle.

"O governo controla a gasolina para combater a inflação, mas destrói o setor do etanol", ponderou.

Para Delfim Netto, a política de utilizar o câmbio para combater a inflação é um "equívoco grave", pois só é viável controlar sua variação, mas não o nível.

"A intervenção do Banco Central está mantendo o câmbio abaixo do seu equilíbrio", comentou.

"Mas a inflação volta, pois (o BC) está só escondendo a inflação. Temos entre 1,5% e 2% de inflação escondida. E para combatê-la, precisa em primeiro lugar fazer com que as pessoas acreditem que ela vai cair", ponderou.

Embora tenha destacado o quadro de crescimento baixo, inflação alta e déficit de transações correntes elevado, ele ponderou que estes fatores não vão levar o país a uma crise econômica como a do passado.

No entanto, ele ponderou que houve "certo descuido" do Poder Executivo na gestão das contas públicas.

"A prioridade do governo tem sido a ampliação do custeio e não dos investimentos", disse.

Segundo ele, houve, talvez, excessos no emprego de recursos do Tesouro para repasses ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o que acabou ajudando a elevar a dívida bruta.

"Ocorreu uma confusão de achar que dívida publica é recurso", ponderou.

De acordo com Delfim Netto, também é um destaque negativo da economia o fato de que a indústria de transformação apresenta um nível de atividade semelhante ao registrado em 2009, o que representa estagnação.

Um efeito negativo dessa realidade é o registro de um déficit de contas correntes de US$ 270 bilhões.

"Não é bom financiar a economia com capital externo desta forma", disse. "O credor é um canalha que vai querer seus recursos de volta."

FMI

O ex-ministro afirmou ainda que o governo "está muito sensível, reage a qualquer crítica com certa violência", ao lembrar o documento do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado na semana passada, que colocou o Brasil na lista de países economicamente vulneráveis.

"Estava certo o FMI quando disse que o Brasil é relativamente vulnerável. Não significa que vamos ter crise e que ela está nos esperando no curto prazo", disse.

Delfim ressaltou ainda que a dívida de curto prazo sobre as reservas no Brasil é de 8,7%, bem menor que Índia (31,1%) e Turquia (84,6%), por exemplo, também listados como vulneráveis.

O ex-ministro ressaltou que a relação reserva sobre dívida externa total também coloca o Brasil em situação mais confortável do que os demais, de 84,7%.

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