A presidente Dilma Rousseff, em Brasília: "a principal crise no Brasil é política e não econômica", diz especialista (Evaristo Sa/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de setembro de 2015 às 21h56.
Rio de Janeiro - O Brasil passou em apenas cinco anos de gigante emergente que maravilhou o mundo com seu crescimento espetacular a gigante em desgraça que acumula uma má notícia depois da outra a menos de um ano para os Jogos Olímpicos.
O último golpe: a decisão da Standard and Poor's de rebaixar a classificação de sua dívida soberana, retirando o selo de bom pagador do país e apontando um alto risco de calote.
Segundo os analistas, o rebaixamento agravará a atual recessão econômica, acelerará ainda mais a inflação e o desempenho e encarecerá o custo da dívida.
Mergulhado na crise dos 'subprime' de 2008 e 2009, o mundo desenvolvido depositou suas esperanças no Brasil, que parecia despertar de uma grande letargia: a economia cresceu em 2010 surpreendentes 7,5% graças aos programas sociais que tiram mais de 40 milhões de brasileiros da pobreza.
Empoderada, a maior economia da América Latina obteve a conquista de ser sede da Copa do Mundo em 2014 e de o Rio de Janeiro receber os Jogos Olímpicos em 2016.
As expectativas, contudo, revelaram-se muito altas. Com um modelo de crescimento baseado principalmente no consumo interno, o Brasil só cresceu em ritmo chinês naquele ano.
Ao boom impulsionado pela alta dos preços das commodities seguiram-se quatro anos de crescimento fraco e desde o segundo trimestre de 2015 uma recessão que a S&P estima que resultará em uma contração de 2,5% do PIB em 2015 e que se estenderá durante por 2016.
Hoje o preço das matérias-primas despencaram em grande parte pela retração da demanda chinesa, as contas públicas não fecham e o escândalo de corrupção da desestabiliza o governo de Dilma Rousseff, que só conta com 8% de aprovação.
"A perda do grau de investimento do Brasil vai pressionar ainda mais o risco, o custo do crédito ficará ainda mais caro, será mais difícil para as empresas buscar capital no exterior, os investimentos cairão", resumiu à AFP a economista Margarida Gutiérrez, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"Nossa taxa de câmbio será ainda mais pressionada, a inflação subirá mais ainda porque a taxa de câmbio subiu, o nível de desemprego cairá mais, o PIB desacelerá ainda mais", acrescentou.
A bolsa de São Paulo, a maior da América Latina, reagiu na quinta-feira à redução da nota da dívida, com uma queda de 2,2% na abertura.
A decisão da S&P foi bastante surpreendente porque era esperada para o final do ano. A nota da dívida em divisas foi rebaixada na última quarta-feira à noite de BBB- para BB+, uma categoria especulativa, com perspectiva negativa. A nota da dívida em moeda local foi rebaixada de BBB+ para BBB-.
"Não há caminho"
"A principal crise no Brasil é política e não econômica. Observamos o governo em Brasília e não há caminho, orientação", disse à AFP André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos em São Paulo.
"O ministro de Fazenda Joaquim Levy queria cortar gastos e não conseguiu. Agora está tentando aumentar impostos e também não consegue. Enviaram ao Congresso um orçamento deficitário, agora estão tentando mudar isso", explicou Perfeito.
O Brasil enfrenta uma 'tempestade perfeita' com recessão econômica desde o segundo trimestre, alta inflação (9,53% em 12 meses), desemprego em alta (7,5%) e queda da popularidade da presidente Dilma. O real sofreu, ao longo deste ano, uma desvalorização de 30% em relação ao dólar.
O governo surpreendeu no final de agosto ao enviar ao Congresso pela primeira vez na história um orçamento para 2016 que prevê um déficit primário de 0,5% do PIB, quando semanas antes havia prometido um superávit fiscal primário de 0,7% do PIB.
No entanto, após o anúncio da S&P, a presidente voltou atrás e disse que o governo aumentará os impostos para fechar o orçamento sem déficit.
A S&P antecipa que a contração do PIB do Brasil será de 2,5% neste ano e de 0,5% em 2016, com o país retomando um "modesto crescimento" em 2017.