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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h04.
O Brasil chegará no início de 2009 ao grau de investimento, prevê o banco de investimentos Credit Suisse. Segundo a instituição, o país conquistará a classificação graças ao acúmulo de dólares e a uma melhora nos níveis de solvência nos próximos dois anos, mesmo mantendo um crescimento baixo.
A previsão foi apresentada nesta terça-feira (5/12), junto com outras perspectivas para a economia, como o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro na casa dos 3% em 2007 e dos 3,3% em 2008. Pelas projeções do Credit Suisse, será beneficiado pelo crescimento global e pelo avanço do comércio internacional que o Brasil alcançará o grau de investimento, nota concedida por agências de risco a economias que oferecem segurança a investidores - hoje, o país está ainda a dois degraus desta classificação. O banco acredita que o mundo avançará em 2007 a uma taxa de 4,8%, levemente inferior à estimada para 2006, de 5,2%, o que estimulará as exportações entre países.
Com isso, o Brasil deve contar com saldo comercial ainda elevado em 2007 e 2008, apesar de mais tímido se comparado ao atual. De acordo com o Credit Suisse, o resultado positivo da balança brasileira sairá de 45 bilhões de dólares em 2006 para 38 bilhões de dólares em 2007 e 37 bilhões de dólares em 2008 - uma queda justificada pela previsão de desaceleração das exportações e de alta das importações, principalmente de bens de consumo e de capital. Apesar do recuo, o superávit ainda garantirá uma boa poupança de dólares, aliado às compras da moeda americana feitas pelo Banco Central e pelo Tesouro, acima de 30 bilhões de dólares em 2007, na ótica do banco. "Essas compras formam um colchão de segurança contra choques externos", diz Marina Palermo, da área de setor externo do Credit Suisse.
A analista também espera grande ingresso de dólares pelo investimento em carteira. "A renda fixa está sendo beneficiada pela isenção a estrangeiros, e as ações, pelo bom resultado das empresas", diz. Para o investimentos estrangeiro direto, o banco trabalha com uma previsão de entrada de 17,5 bilhões de dólares em 2007, frente a esperados 16,7 bilhões de dólares em 2006.
No fim de novembro, o Brasil superou o recorde histórico ao registrar reservas de 83 bilhões de dólares. Segundo o Credit Suisse, essa cifra deve alcançar 110 bilhões de dólares em 2007 e 130 bilhões em 2008.
Dívida
Considerada um grande fantasma para agências de risco, a atual dívida líquida brasileira caminha para uma redução significativa, segundo o Credit Suisse. Em 2006, a divisão do débito pelo PIB do país deve resultar em uma proporção de 50%, mas o número se tornará menos assustador aos estrangeiros nos próximos anos, de forma progressiva. Para o Credit, a relação dívida/PIB chegará a 43,6% em 2009 e a 22,3% em 2015.
"O importante é manter a meta de superávit primário em 4,25%", afirma Nilson Teixeira, economista-chefe do banco, sobre o aperto que o governo faz para pagar os juros da dívida. O perfil da dívida também tem mudado com os anos e contribuído para reduzir o déficit: a exposição ao dólar desapareceu, e ganharam força as parcelas prefixadas e atreladas à inflação, o que, segundo o banco, torna o país "mais confiável".
Riscos
Ainda que trace um cenário otimista para o Brasil no curto prazo, o Credit não deixou de ressaltar riscos à economia. "O maior risco hoje é o setor externo", afirma Teixeira. De acordo com o banco, a retração do mercado imobiliário americano pode agravar a desaceleração do consumo das famílias dos Estados Unidos e prejudicar a demanda do país no comércio internacional. Também na China espera-se que o consumo das famílias tenha leve desaceleração em 2007.
No cenário doméstico, o aumento da demanda pode causar pressões inflacionárias. E já que parcela cada vez maior desse consumo tem sido abastecida com importações, o país ainda poderia contabilizar perdas no saldo comercial. Mas a austeridade fiscal é a meta mais prezada pelo banco, que adverte que a redução do superávit primário poderia ser desastrosa, pois não há projeção de redução dos gastos públicos no curto prazo.
As previsões do Credit Suisse para a economia brasileira. | ||||
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2006 |
2007 |
2008 | |
PIB (crescimento) |
2,7%
|
3,0%
|
3,3%
| |
Selic (ao fim do período) |
13,3%
|
11,3%
|
10,5%
| |
Dívida líquida setor público (% do PIB) |
50,0% |
48,7% |
46,5% | |
Balança comercial (saldo em US$ bilhões) |
45
|
38,4
|
36,7
| |
Inflação (IPCA) |
3,0%
|
3,2% |
3,5% |