Economia

Brasil ainda não chegou ao fundo do poço, diz banco francês

Relatórios de bancos estrangeiros pioram projeções de recessão e destacam contribuição da política para a volatilidade

homem olha para gráfico (Getty Images)

homem olha para gráfico (Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 5 de outubro de 2015 às 12h04.

São Paulo - Ainda está difícil de ver o fundo do poço para a economia brasileira, de acordo com o banco francês Société Générale.

O último relatório internacional lançado hoje diz que a Rússia parece ter alcançado o fundo a partir do qual é possível uma recuperação. Isso ainda não aconteceu com o Brasil:

"Ainda não há sinais preliminares de 'batida no fundo' [bottoming out] nos próximos trimestres. O consumo doméstico deve continuar a enfrentar ventos contrários de uma confiança deprimida, aumentos de impostos e renda real em queda. O investimento deve continuar acuado devido a condições mais restritas de crédito, taxas de juros crescentes e risco político em alta".

A crise política é creditada por colocar ainda mais pressão sobre uma situação já frágil. Isso acontece especialmente pela piora do déficit diante de dificuldades no Congresso e o alto nível da Selic, vinculada a 21% da dívida pública.

A projeção do banco é de recessão de -2,4% em 2015 e -0,3% em 2016 com inflação de 9,5% e 7%, respectivamente.

A alta do dólar e a dificuldade de conter os preços pode levar a mais altas de juros. É o que o mercado tem apostado, apesar de declarações do Banco Central em outro sentido.

Projeções

O último Boletim Focus divulgado hoje é ainda mais pessimista do que o Société Générale. A projeção para 2015 foi revisada para baixo pela 12ª semana e está em 2,85%, com 1% negativo em 2016.

Para o banco BNP Paribas, as quedas serão de 3% em 2015 e 2% em 2016 com inflação de 9,5% e 6,5%, respectivamente.

Já o Citi diz que "desenvolvimentos políticos continuarão tendo um papel crucial em determinar os preços de ativos domésticos" e espera recessão de -2,7% em 2015 e 1,1% em 2016. 

Em um relatório de meados de setembro, o Deutsche Bank projetou recessão de 2,8% em 2015 e 0,9% em 2016 e disse que um impeachment poderia piorar a performance e trazer mais volatilidade.

"Não está claro que a saída de Rousseff melhoraria a governabilidade, já que um novo presidente teria sua legitimidade contestada por grupos esquerdistas e continuaria a enfrentar os mesmos problemas econômicos complexos e consequências políticas da Lava Jato. Perturbações sociais poderiam se seguir", diz o texto.

Outra consequência do impeachment seria o PT na oposição aproveitando o caos econômico para se reorganizar e lançar Lula como candidato em 2018 com uma plataforma de extrema esquerda. 

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