Economia

Bolsonaro tem em Davos uma chance de ouro para conquistar estrangeiros

Recordes da bolsa são mais sustentados pelo investidor local do que pelo estrangeiro e economia fortalecida ajudaria a isolar governo do noticiário negativo

O presidente Jair Bolsonaro: cirurgia de cerca de três horas será para retirada da bolsa de colostomia (Andre Coelho/Bloomberg)

O presidente Jair Bolsonaro: cirurgia de cerca de três horas será para retirada da bolsa de colostomia (Andre Coelho/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 21 de janeiro de 2019 às 16h54.

Última atualização em 21 de janeiro de 2019 às 17h04.

Jair Bolsonaro tem em Davos uma chance imperdível de conquistar o investidor estrangeiro, que ainda não se mostra tão convencido quanto o brasileiro sobre a capacidade do presidente de entregar sua agenda liberal.

Além disso, cristalizando as já elevadas expectativas na economia, o presidente terá a chance de fortalecer o seu “efeito teflon”, mantendo-se invulnerável ao noticiário negativo que tem se avolumado sobre as movimentações financeiras do seu filho.

O Ibovespa tem batido seguidos recordes e não está longe dos 100.000 pontos, mas até agora os números do fluxo mostram que as apostas vêm sobretudo do investidor local.

O estrangeiro segue ressabiado, seja pelas incertezas do cenário global, seja por decepções passadas com o Brasil, cuja economia cresce abaixo da média mundial há quase uma década.

O desafio de Bolsonaro e seu ministro da economia, Paulo Guedes, é convencer a comunidade financeira em Davos de que podem mudar essa trajetória.

O sucesso de Bolsonaro e Guedes poderia recolocar os planos do governo no centro dos holofotes, que têm sido disputados de forma negativa pelas notícias sobre os depósitos na conta de Flávio Bolsonaro e seu assessor. No final de semana, o filho do presidente deu entrevistas a TVs e disse ser vítima de perseguição e ataques.

O mercado não receia que Bolsonaro seja pessoalmente atingido, mas teme que o presidente, que se elegeu prometendo ser duro contra a corrupção, sofra desgaste e se enfraqueça politicamente às vésperas do seu provável maior desafio político, que é a votação da reforma da Previdência.

É fato já demonstrado que uma economia vibrante pode ajudar um governo a superar noticiário negativo em outras áreas. O ex-presidente Lula, que contou com a expansão do PIB para superar as denúncias do mensalão em 2005, é, no Brasil, um exemplo clássico do chamado “efeito teflon”, quando as más notícias “não grudam” no político alvo. Este efeito foi também exibido pelo ex-presidente Fernando Henrique, que conseguiu governar por oito anos em relativa estabilidade apesar dos escândalos políticos de sua época.

O próprio Bolsonaro já deu demonstrações, durante a campanha, de ser pouco vulnerável. Ele manteve o favoritismo nas pesquisas mesmo após ser alvejado por notícias envolvendo supostas declarações de uma de suas ex-esposas e, na reta final da campanha, sobre a veiculação de informações pelo WhatsApp - o então candidato sempre negou envolvimento em irregularidades.

Na época, ele se beneficiava de ser oposição a todos os últimos governos, capitalizando assim o desagrado da população com os políticos. Mas agora a situação é outra. Desde que assumiu a presidência, Bolsonaro deixa de capitalizar o mau humor da população e passa a precisar de boas notícias para alimentar o otimismo dos eleitores e investidores.

Investidores estrangeiros na Bolsa

 

Resultados do dólar e bolsa em 2019

Resultados do dólar e bolsa em 2019 (Gráfico)

Acompanhe tudo sobre:CorrupçãoDavoseconomia-brasileiraFórum Econômico MundialGoverno BolsonaroJair BolsonaroPaulo Guedes

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo