Economia

Boi de safra trará alívio ao preço da arroba, diz indústria

Representantes da indústria frigorífica disseram que a seca atrasou a terminação do boi engordado no pasto


	Gado em uma fazenda de Barretos: oferta de gado para o abate deve subir já a partir de abril
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

Gado em uma fazenda de Barretos: oferta de gado para o abate deve subir já a partir de abril (Dado Galdieri/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 18 de março de 2014 às 16h46.

São Paulo - A recente alta do preço da arroba bovina para patamares recordes nominais no Estado de São Paulo, importante referência para o país, deverá perder força nos próximos meses, com a entrada do chamado "boi de safra" no mercado, disseram nesta terça-feira representantes do setor em um evento na capital paulista.

Mas a previsão é também de um novo impulso na cotação do boi no final do ano, diante da forte demanda, em meio à expectativa de exportações recordes do país, e de uma oferta mais restrita.

Representantes da indústria frigorífica disseram que a seca atrasou a terminação do boi engordado no pasto no norte de São Paulo, sul de Mato Grosso do Sul, na fronteira sul-matogrossense com Goiás e no Triângulo Mineiro, levando os preços a patamares de pouco mais de 125 reais a arroba em São Paulo, valor nominal recorde, atrás apenas dos 133,31 reais (considerando a inflação) de novembro de 2010, segundo instituto da USP.

Mas a oferta de gado para o abate deve subir já a partir de abril.

"Houve uma retenção de animais", disse o diretor de Compras da Marfrig, José Pedro Crespo, referindo-se a problemas de estiagem que afetaram pastagens no centro-sul nos últimos meses.

"Em abril, maio, a oferta melhora, e depois já começa a entrar o boi de cocho", acrescentou ele, em entrevista a jornalistas, no lançamento da Expo Zebu, exposição pecuária marcada para maio, em Uberaba (MG).

O analista Flávio Abdo, da Inteligência de Mercado da Marfrig, segunda produtora de carne bovina do país, também presente no evento, lembrou que a arroba do boi subiu 5 reais em dez dias, algo bastante atípico, e que as cotações não resistirão à pressão da maior oferta.

"O boi de safra que não entrou (em função da seca), deverá pressionar", afirmou Abdo, destacando que um recuo da arroba viria em boa hora, uma vez que as indústrias frigoríficas repassaram os custos e já estão encontrando dificuldades para vender alguns cortes no mercado interno.

O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Luiz Claudio Paranhos, concordou que o preço da arroba deverá ser pressionado nos próximos meses, com o final do período tradicionalmente chuvoso no centro-sul.

"É possível que em abril e maio possa ceder (o preço), mas não cai em São Paulo abaixo de 110 reais (a arroba)", afirmou.

De qualquer forma, após o período de maior oferta, Paranhos avalia que a oferta mais restrita, típica de um "início de um ciclo de alta" da arroba, deverá sustentar os preços.

"A expectativa é de um patamar acima do de hoje (para o final do ano). Tranquilamente, vamos ter 130 reais", disse o presidente da associação dos criadores de gado zebu, lembrando que o período que esse valor será batido dependerá da entrada dos animais de confinamento no mercado.

Paranhos observou que o chamado "ciclo de alta" da arroba começou a se configurar no ano passado, quando caiu a oferta de bezerros. Com isso, os pecuaristas passaram a valorizar o animais, retendo vacas. "Quando não se abate vaca, o preço sobe." Embora tenha evitado falar em um valor para os custos de produção, o pecuarista disse que os preços atuais estão remuneradores, permitindo que o setor faça investimentos para elevar a produtividade, algo que poderia ser intensificado se a oferta de crédito, especialmente para os pequenos produtores, fosse desburocratizada.

"A arroba mudou de patamar, não volta mais para dois dígitos."

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