Economia

Vamos tirar essa nuvem negra do BNDES, diz novo chefe sobre "caixa-preta"

Em cerimônia de posse, Montezano disse também que o banco vai acelerar vendas de participações em empresas, que hoje estão na ordem de R$ 100 bilhões

Montezano: "BNDES até final do ano será menos banco e mais desenvolvimento" (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Montezano: "BNDES até final do ano será menos banco e mais desenvolvimento" (Antonio Cruz/Agência Brasil)

R

Reuters

Publicado em 16 de julho de 2019 às 13h10.

Última atualização em 16 de julho de 2019 às 16h48.

Brasília — O novo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, afirmou nesta terça-feira que o banco de fomento trabalhará com cinco metas, já alinhadas com o Ministério da Economia e que incluem a aceleração de vendas de participações detidas em empresas.

Em cerimônia para marcar sua posse no banco, em lugar de Joaquim Levy, Montezano afirmou que as participações "especulativas" detidas pelo BNDES em bolsa de valores são da ordem de 100 bilhões de reais.

Montezano também afirmou que o BNDES quer concluir a devolução de recursos ao Tesouro Nacional, 126 bilhões de reais, ainda neste ano.

"BNDES até final do ano será menos banco e mais desenvolvimento", disse Montezano, após sublinhar que o banco não buscará lucro, mas sustentabilidade financeira.

O Ministério da Economia anunciou a nomeação de Montezano para a presidência do BNDES em junho. Até então ele era secretário-adjunto de desestatização da pasta.

Montezano foi o sócio-diretor do BTG Pactual responsável pela divisão de crédito corporativo e estruturados, baseado em São Paulo. Ele iniciou a carreira como analista de private equity no Opportunity, no Rio de Janeiro, e é mestre em Economia pela Faculdade de Economia e Finanças (IBMEC-RJ) e graduado em Engenharia pelo Instituto Militar de Engenharia (IME-RJ).

A escolha de Montezano veio depois de um imbróglio em que Levy pediu para deixar a presidência do BNDES após o presidente Jair Bolsonaro ameaçar publicamente demiti-lo se ele não afastasse um executivo do banco de fomento.

Guedes

O ministro da Economia, Paulo Guedes, reiterou nesta terça-feira a meta do governo de acelerar privatizações e de "despedalar" bancos públicos, com desestatização do mercado de crédito no Brasil.

Segundo Guedes, os juros no crédito livre são "altíssimos", com o crédito concentrado em "quatro, cinco" bancos e recolhimento dos depósitos compulsórios "muito alto". De acordo com o ministro, essa série de "imperfeições" joga os juros "na Lua".

Guedes disse ainda que, por determinação do presidente Jair Bolsonaro, o governo anunciará dentro de duas semanas medidas para baratear o custo da energia, tratado pela equipe econômica como um "choque de energia barata".

 Credibilidade do banco

Montezano, disse também que a imagem do banco de fomento hoje é questionada e lembrou que a instituição vive de credibilidade. Segundo ele, as dúvidas sobre a chamada "caixa preta" do BNDES atrapalham a formação de estratégia do banco.

"Com foco empresarial, é importante termos uma explicação sobre a caixa preta do BNDES, como marco zero. Precisamos tirar essa nuvem negra de cima do banco", avaliou. "Tenho o dever de investigar todo e qualquer tema que bloqueie o banco de desenvolver sua estratégia de serviços", acrescentou.

Montezano disse não ter uma opinião formada ainda sobre o tema, mas garantiu que coordenará pessoalmente esse processo. "As informações são completamente desencontradas. Em dois meses devo formar uma opinião sobre essa questão. Dois meses é um tempo curto, mas é importante fazer isso o mais rápido possível", respondeu.

Ele evitou adiantar qualquer ponto sobre essa varredura que deverá ser feita nas contas do banco e disse estar aberto a qualquer tipo de conclusão. "O que sairá disso eu prefiro não dizer agora. Nosso objetivo é ser transparente. Se, no final, alguém não ficar feliz ou contente, isso não vai nos forçar a revelar informações que não sejam consistentes."

O novo presidente do BNDES acrescentou que não assume o banco com a função de julgar gestões anteriores, mas com a missão de fazer a instituição se desenvolver. "Sou um executivo. Não sou juiz, nem político. Não vou entrar no mérito do que os outros presidentes fizeram, se foi errado, eu vou fazer do meu jeito", completou.

Para Montezano, apesar dos principais dados das operações do banco já estarem disponibilizados no site da instituição, é importante explicar essas informações para a população. "O que estamos nos propondo a fazer é explicar a caixa preta. Ainda paira uma dúvida substancial na cabeça de população e políticos sobre isso", concluiu.

O presidente do BNDES evitou comentar as investigações e conclusões da CPI do BNDES e da Operação Lava Jato sobre o banco.

Acompanhe tudo sobre:BNDESGoverno BolsonaroGustavo MontezanoPaulo Guedes

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto