Chinesa calculando: menos estímulos do Federal Reserve e o esfriamento da demanda na China ajudaram para criar nova distinção (Ed Jones/AFP)
Da Redação
Publicado em 21 de outubro de 2013 às 20h50.
Washington/Londres - Os mercados emergentes correm o risco de se despedaçarem em BIITS. Os investidores nesses mercados estão se tornando mais exigentes em relação a onde colocar seu dinheiro e mais tímidos quanto a países como Brasil, Índia, Indonésia, Turquia e África do Sul.
Por trás da distinção está um recém-descoberto foco nos déficits em conta-corrente e deficiências estruturais expostas pela probabilidade de menos estímulos do Federal Reserve e o esfriamento da demanda na China, segundo economistas da HSBC Holdings Plc, da JPMorgan Chase Co. e do International Strategy Investment Group LLC.
Isso é uma ruptura em relação aos últimos quatro anos, quando os mercados emergentes se moveram majoritariamente em conjunto, vistos como cobertura tanto para compra quanto para venda, com pouca preocupação a respeito de suas circunstâncias individuais. Essa mentalidade foi sintetizada pela popularidade da sigla BRIC, cunhada para Brasil, Rússia, Índia e China, para refletir seu potencial como futuras potências econômicas.
“Os investidores serão muito mais exigentes em relação aos mercados emergentes do que foram no passado”, disse Donald Straszheim, chefe de pesquisa para a China da ISI, com sede em Nova York. “Haverá uma inclinação natural para buscar aqueles que estão mais bem posicionados”.
Decisão surpresa
A decisão surpresa do Fed em setembro de continuar com suas aquisições de ativos forneceu um descanso para os mercados emergentes, enquanto as vendas de suas moedas diminuíram. A prorrogação será apenas temporária, contudo, segundo Michael Shaoul, presidente da Marketfield Asset Management LLC, com sede em Nova York, que gerencia cerca de US$ 17 bilhões.
Alguns desses países verão mais saídas de capitais nos próximos três a seis meses enquanto os investidores começarem a “diferenciar bons e maus mercados emergentes”, disse ele. Sua empresa está apostando contra ações e bônus de mercados emergentes, incluindo as do Brasil e da Índia.
“Eu não acho que o mercado baixista nos mercados emergentes chegou ao fundo do poço”, disse ele. “Há uma oportunidade real de venda”.
O pior pode não ter terminado para os BIITS se o passado servir de guia. O real brasileiro perdeu 51 por cento em 2001-02, a rúpia indonésia despencou 86 por cento em 1997-98 e a rúpia da Índia caiu 42 por cento em 1990-92. Em 2000-01, a lira turca caiu 68 por cento e o rand sul-africano depreciou 52 por cento.
Muitos mercados emergentes também gastaram muito de suas defesas lutando contra a crise financeira global em 2008, disse Mohamed El-Erian, CEO e diretor de investimento da Pacific Investment Management Co., a gerenciadora do maior fundo de bônus do mundo.
Velhos hábitos
Enquanto o México está “fazendo a coisa certa”, disse ele, o Brasil está “voltando aos seus velhos hábitos” e a Turquia “nega ter um problema”.
Com essas diferenças tornando-se mais aparentes, as pessoas querem agora “comprar o melhor da espécie”, disse Marc Chandler, chefe de estratégia cambial em Nova York da Brown Brothers Harriman Co., que tem cerca de US$ 3,4 trilhões em ativos sob custódia e administração.
“O México é atrativo e mais convincente do que alguns dos outros da região” enquanto “os da lista dos BIITS podem ser os mercados emergentes com maior turbulência”.
Ao mesmo tempo, as ações e moedas de economias em desenvolvimento podem ter sido sobrevendidas e muitas serão capazes de se recuperar à medida que os investidores readquirirem o gosto pelo risco, segundo Jeff Chowdhry, chefe de ações de mercados emergentes da F&C Asset Management Plc, com sede em Londres, que gerencia cerca de US$ 150 bilhões.
“Os cinco terríveis podem se sair muito bem porque eles terão melhorias em suas moedas e mercados de ações”, disse ele. “Sob nossa perspectiva, nós estamos encontrando a maioria das oportunidades nessas economias, com exceção da África do Sul”.
Os estrategistas já estão se ajustando. “Sem dúvida algumas das decisões que as principais economias avançadas estão tomando têm influência sobre outros países”, disse o membro do Conselho Executivo do Banco Central Europeu Joerg Asmussen em entrevista. Ao longo dos últimos meses, “os efeitos colaterais negativos foram mais fortes em países com grande déficit em conta-corrente e atraso em reformas domésticas”.