Economia

Big Mac indica: o Real está mais hipervalorizado do que parece

Versão ajustada do Índice Big Mac indica que o real pode ser a moeda mais cara do mundo neste momento

Dólar e Real: Índice Big Mac mostrou que o real está passando por uma valorização atípica (Foto/Thinkstock)

Dólar e Real: Índice Big Mac mostrou que o real está passando por uma valorização atípica (Foto/Thinkstock)

DR

Da Redação

Publicado em 15 de fevereiro de 2017 às 09h44.

Última atualização em 15 de fevereiro de 2017 às 09h57.

O dólar bateu mais um recorde recente de baixa nesta terça-feira: caiu abaixo dos R$ 3,10, coisa que não acontecia desde julho de 2015. Mas a questão aí não é que o dólar esteja particularmente barato – pelo menos não em relação às outras moedas do planeta.

Diagnóstico: é o real quem está passando por uma valorização atípica. É o que mostra a versão mais recente do Índice Big Mac, que a revista britânica The Economist compila desde 1986.

O Índice Big Mac, para quem não conhece, é uma ferramenta que ajuda a mostrar quais moedas do mundo estão valendo demais e quais estão valendo de menos em relação ao dólar.

A filosofia por trás da coisa é a seguinte: o sanduíche do McDonald’s tem a mesma receita no mundo todo, e é sempre produzido com ingredientes locais, comprados em moeda local. Em janeiro, o sanduíche custava US$ 5,12 (R$ 16) no Brasil. No Egito, ele saía por US$ 1,46 (R$ 5).

Quando os produtos dos outros países parecem baratos demais, é porque a moeda do seu país está valorizada demais. É o que acontece com o real em relação à moeda do Egito, e em relação a praticamente todas as outras. Tanto que, em janeiro, estávamos com o quinto Big Mac mais caro do mundo.

Na nossa frente, só Suíça, Suécia e Noruega – além da Venezuela (que está de intrusa na lista – o lanche está caro lá porque a economia do país está destruída, então o Big Mac virou artigo de luxo, como era no Brasil hiperinflacionado dos anos 80, quando as pessoas se vestiam bonito para ir ao Mac).

A lista:

indicebigmac-dollar

- (Superinteressante)

Bom, não contei que o Índice Big Mac tem uma falha. Ele não leva em conta a pobreza relativa dos países. A renda média mensal no Egito é de R$ 500. No Brasil, são R$ 2.500. Sim, aqui é pouco também.

Mesmo assim, dá cinco vezes a renda deles. Logo, um sanduíche que só leva ingredientes modestos – dois hambúrgueres, alface, queijo, cebola, pepino e pão – acaba custando menos lá.

Por conta desse tipo de problema, a Economist bolou uma versão “gourmet” da coisa (o trocadilho é deles, não deste repórter). E essa variante é mais esperta mesmo: leva em conta as disparidades na renda per capita dos países.

Tipo: um Big Mac custa mais de US$ 6 na Suíça. Mas a Suíça é um país com renda média de R$ 12 mil por mês. De cada 10 suíços adultos, um é milionário (milionário em dólar, o que significa que cada um deles tem pelo menos R$ 3 milhões em bens e investimentos). Logo, não dói para ninguém lá pagar quase R$ 20 num Big Mac.

Aqui dói. E dói mais ainda quando a gente se compara a países mais terráqueos que a Suíça. África do Sul, por exemplo. A renda média lá é de R$ 4.500. Quase duas vezes a nossa. Já o Big Mac deles custa US$ 1,89 (R$ 6). Gordos 10 reais a menos que o nosso.

Pelo Índice Big Mac ajustado, países pobres tendem a ir para a parte de cima da lista. E o que acontece com o Brasil, então, que, além de pobre tem um Big Mac com preço Suíço?

Veja:

indicebigmac-dollarajustado

- (Superinteressante)

Pois é.

O real valorizado desse jeito é até bom para viajar, óbvio. E, se Europa e EUA ficam mais acessíveis, numa África do Sul da vida você faz a festa: pizza de R$ 10, vinho bom de R$ 15. Show.

O problema mesmo é para as empresas nacionais que exportam: o real valorizado não deixa só o Big Mac brasileiro caro, deixa nossa soja, nosso café, nossos aviões e nosso petróleo mais caro.

Sim, o barril da Petrobras e o avião da Embraer são sempre cotados em dólar, mas os salários dos funcionários são em real – se os dólares quem entram rendem menos reais do que o normal, os funcionários ficam mais caros, então a produção acaba mais dispendiosa. Alguma coisa, enfim, está fora da ordem. Aguardemos os próximos capítulos.

Este conteúdo foi originalmente publicado na Superinteressante.

Acompanhe tudo sobre:CâmbioDólarMoedasReal

Mais de Economia

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto

Manifestantes se reúnem na Avenida Paulista contra escala 6x1