Dinheiro: "a inflação tem rodado sistematicamente acima de 6% e está se cristalizando em torno desse patamar", disse Serrano (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de janeiro de 2014 às 10h41.
São Paulo - A inflação no Brasil está se consolidando no nível de 6% ao ano, na avaliação do economista-sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, ao comentar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2013, que subiu 5,91%, conforme divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta sexta-feira, 10.
"A inflação está estabilizada, mas não controlada, porque controlada é uma inflação de 4,5%", disse, citando a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
"A inflação tem rodado sistematicamente acima de 6% e está se cristalizando em torno desse patamar. Preços livres aceleraram e administrados caíram. Não fossem manobras do governo, como em energia e IPI, para reduzir os preços, provavelmente teríamos o IPCA acima do teto da meta", acrescentou.
Para ele, falta um ajuste monetário na intensidade suficiente para controlar o problema e, principalmente, o governo reduzir os gastos públicos. "O governo insiste em estimular a demanda doméstica", criticou.
Já a avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, o resultado do IPCA de 2013 mostra que a perspectiva para a inflação em 2014 é preocupante e dificilmente registrará uma alta nos preços inferior à do ano passado.
Ele lembra que houve um represamento da inflação no ano passado, com desonerações ao longo do ano - em energia, IPI e com aumento da gasolina abaixo do esperado.
"Temos um IPCA que não está num nível real, está abaixo, e pela necessidade de ajustes nos próximos anos as desonerações vão começar a ser repensadas, o que traz impacto em preços", disse o economista. Por causa disto e de uma política pouco agressiva do Banco Central para baixar a inflação, ele trabalha com um cenário de IPCA em torno de 6,5% em 2014.
"O governo tinha a vontade muito grande de que o IPCA ficasse abaixo do registrado em 2012, como tentativa de sinalização de que a política monetária estaria surtindo efeito", lembra Vale.
O desejo de Brasília, contudo, não se concretizou. Mesmo assim, o economista acredita que o Banco Central terá dificuldade para subir os juros em ano eleitoral e trabalha com alta de 0,25 ponto porcentual na Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de janeiro e depois estabilidade até as eleições presidenciais, em outubro.
"O Banco Central deve parar de subir os juros agora em janeiro e, como efeito, trará mais dúvidas sobre a inflação de 2015", explica.
Segundo ele, a presidente Dilma Rousseff não permitirá uma ousadia maior do Banco Central em 2014. "É um esforço de política monetária que não sei se ela está disposta a permitir agora", afirma. "O que se vê hoje são dois anos preocupantes de inflação e, pelo retrospecto, vemos uma inflação média de 6%, que é o que a Dilma vai entregar."
Na avaliação do economista-chefe da MB Associados, o Banco Central já sinalizou que trabalha com uma inflação implícita de 5,5%. "Um BC de antigamente estaria extremamente preocupado com esse 5,5% consolidado e teria uma postura agressiva nas taxa de juros", analisa.
O economista projeta que a presidente Dilma será reeleita neste ano e a Selic subirá, nas duas reuniões posteriores à eleição, 0,25 ponto porcentual em cada encontro do Comitê de Política Monetária (Copom).
Apesar disso, ainda ficará aquém do patamar necessário para trazer o IPCA para mais próximo da meta, que segundo Vale é de 14% ao ano.
De acordo com ele, é difícil imaginar neste cenário que o IPCA deste ano seja inferior ao do ano passado. Durante todo o primeiro trimestre, a previsão do economista é de que a inflação fique em torno de 5,9%, com impactos de alimentação e energia. "Vemos uma inflação estabilizada em um nível elevado", mencionou.