Economia

BCE quer que estímulo seja julgado por qualidade, não quantidade

Ao desviar a atenção de investidores do tamanho para a duração, as autoridades também podem tentar evitar erros do passado

Sede do Banco Central Europeu (BCE), em Frankfurt, na Alemanha 26/04/2018 REUTERS/ (Kai Pfaffenbach/Reuters)

Sede do Banco Central Europeu (BCE), em Frankfurt, na Alemanha 26/04/2018 REUTERS/ (Kai Pfaffenbach/Reuters)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 18 de novembro de 2020 às 13h45.

Última atualização em 18 de novembro de 2020 às 13h58.

Autoridades do Banco Central Europeu tentam persuadir investidores a não se concentrarem muito no tamanho da próxima dose de estímulo monetário, mas no modelo proposto. A presidente do BCE, Christine Lagarde, e outros membros da instituição fizeram vários comentários para enfatizar que a tão esperada decisão de política monetária em dezembro terá como objetivo consolidar a oferta de dinheiro barato durante a crise econômica por meio da compra de ativos e de mais empréstimos aos bancos.

“Realmente importante é que nos certifiquemos de que as condições de financiamento sejam estáveis, que conduzam à recuperação econômica à medida que aconteça”, disse Lagarde no New Economic Forum da Bloomberg na terça-feira. Os operadores econômicos devem “não apenas saber que o nível de financiamento estará presente mas que estará disponível por um período que será o suficiente.”

A ênfase pode ser uma tentativa de conter as expectativas de um aumento exagerado das compras de títulos além dos 500 bilhões de euros adicionais (594 bilhões de dólares) previstos por alguns economistas, agora que outra retração se materializa diante da nova onda de casos de coronavírus e mais restrições.

Seja qual for a motivação, Lagarde e outras autoridades de política monetária enfrentam o desafio de convencer observadores condicionados pelo típico apetite do BCE em anunciar compras em larga escala de dívida do governo como uma peça central do estímulo.

As autoridades querem destacar que o prazo e implementação das compras de títulos pelo BCE são os aspectos mais importantes, e como estes se encaixam em um conjunto de ferramentas mais amplo, cujos outros elementos podem ser ainda mais potentes.

“Não é tanto o número geral que importa”, disse Philip Lane, economista-chefe do BCE, a um canal de TV de Portugal nesta semana.

Lane e outros membros do BCE enfrentam os limites de suas ferramentas. Autoridades de política monetária praticamente descartaram mais cortes das taxas de juro e, embora insistam que sempre podem injetar mais liquidez nos mercados por meio de compras de ativos e empréstimos bancários, também alertaram que tais medidas correm o risco de perder eficácia.

Ao desviar a atenção de investidores do tamanho para a duração, as autoridades também podem tentar evitar erros do passado. Em 2015, o então presidente do BCE, Mario Draghi, alimentou esperanças antes de revelar um pacote que desanimou os mercados, o que o obrigou a agir novamente apenas três meses depois.

Contra o pano de fundo de uma crise econômica em curso e memórias da reticência inicial do BCE em acalmar os mercados de títulos públicos, as autoridades estão cientes de que uma abordagem abaixo das expectativas pode provocar pânico, causando um aperto indesejado das condições financeiras.

“Há uma série de questões que eles devem ter em mente ao decidir o valor da compra adicional, e uma delas é a quantidade de emissões que se pode esperar dos governos”, disse Anatoli Annenkov, economista do Société Générale, em Londres. “Eles provavelmente querem estar próximos desse número para sinalizar aos mercados que estarão prontos para absorver a oferta extra.”

Autoridades do BCE têm mais duas semanas para ajustar as expectativas antes do tradicional período de silêncio que precede a reunião de política monetária em 10 de dezembro.

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