BCE: instituição monetária da zona do euro confirmou o fim de seu programa de apoio à economia, previsto para o final do ano (Foto/Getty Images)
AFP
Publicado em 26 de julho de 2018 às 17h20.
O Banco Central Europeu (BCE) manteve nesta quinta-feira (26) seu objetivo de reduzir progressivamente sua compra maciça de ativos decidida em junho e considerou prematuro celebrar os anúncios de trégua entre Estados Unidos e União Europeia em suas disputas comerciais.
A instituição monetária da zona do euro confirmou o fim de seu programa de apoio à economia, previsto para o final do ano.
A reunião da junta diretora do BCE foi celebrada no dia seguinte ao encontro em Washington entre Donald Trump e o presidente da Comissão Europea, Jean-Claude Juncker, que anunciaram um acordo para acabar com a guerra comercial.
O presidente do BCE, Mario Draghi, demonstrou prudência e disse a jornalista que a reunião foi "um bom sinal", mas que é "muito cedo" para tirar conclusões.
Para o BCE "a ameaça do protecionismo continua sendo muito importante". Apesar de tudo, Draghi afirmou que "a economia da zona do euro continua avançando sobre um sólido caminho de crescimento".
Nesta quinta-feira, a França e a Alemanha, as duas potências econômicas da zona do euro, reagiram com cautela aos anúncios de Washington. Berlim considerou os resultados "construtivos". Paris pediu "esclarecimentos".
Trump e Juncker anunciaram nesta quarta-feira uma série de decisões sobre agricultura, indústria e energia para desativar a guerra comercial, embora ainda não se saibam detalhes de seu alcance.
No que se refere à política monetária, o BCE se limitou a repetir em um comunicado que deixará os juros no nível mais baixo "pelo menos até o verão (boreal) de 2019".
A instituição menciona fatores de risco novos desde o mês passado, "em particular o estado de debate sobre o comércio" internacional.
Os mercados se mantêm atentos a qualquer sinal de Draghi sobre esse calendário, interpretado de diferentes formas, inclusive pelos membros do Conselho de Governadores do BCE.
A principal taxa de refinanciamento se manteve em zero nesta sexta-feira, enquanto que os bancos continuarão pagando ao BCE um juros negativo de 0,40% por seus depósitos ociosos.
Nos próximos meses, o BCE continua prevendo uma saída progressiva para fim de dezembro de 2018 do "QE", seu programa de compra maciça de dívida pública e privada, que passará por uma desaceleração do ritmo entre outubro e dezembro, a 15 bilhões de euros mensais contra 30 bilhões atuais.
O banco se reserva ainda a possibilidade de mudar de direção, condicionando o abandono da compra de dívida a dados que confirmem as perspectivas de inflação no médio prazo.
O programa de compra de dívida foi anunciado em janeiro de 2015. O BCE injetou no mercado quase 2,5 trilhões de euros, para favorecer o financiamento de famílias e empresas para que estimulassem o crescimento e a inflação.
O BCE continuará ativo nos mercados em 2019, já que deve renovar os títulos que expiram "durante um período prolongado após o final da compra líquida de ativos", confirmou nesta quinta-feira.
O estoque da dívida pública e privada será mantido para evitar que as condições financeiras se tornem mais rígidas.
"Isso significa que já não haverá muita munição clássica no arsenal do BCE caso haja uma desaceleração", explicou Erik Nielsen, economista da Unicredit.
Os últimos indicadores conhecidos para o mês de julho preocupam, com uma pequena inflexão da atividade na indústria e o comércio na zona do euro, segundo o índice PMI da consultora Markit publicado na terça-feira. Entretanto, a tímida queda do índice IFO da confiança dos empresários alemães, publicado na quarta-feira, incita, pelo contrário, certo otimismo.
A taxa de inflação na zona do euro subiu 2% em junho, superando inclusive a meta "inferior, mas próxima de 2%" fixada pelo BCE. Sem considerar a energia e os alimentos, a inflação a 0,9%, contra 1,1% do mês anterior, uma tendência pouco alentadora.