Nova sede do Banco Central Europeu (BCE) em Frankfurt (Kai Pfaffenbach/Reuters)
Da Redação
Publicado em 22 de janeiro de 2015 às 15h54.
Frankfurt - O Banco Central Europeu (BCE) anunciou nesta quinta-feira uma injeção de liquidez no sistema financeiro com a compra de dívida pública e privada de até 60 bilhões de euros mensais até o final de 2016 para salvar a zona do euro.
"O conselho de governadores decidiu lançar um programa ampliado de compra de ativos, a ofensiva monetária tão esperada do BCE", disse o presidente da instituição Mario Draghi na coletiva de imprensa realizada após a reunião mensal em que se decidiu pela manutenção das taxas de juros, historicamente abaixo dos 0,05%.
"O programa de expansão quantitativa será implementado até o final de setembro de 2016 e até que seja percebido um ajuste perene na trajetória da inflação", informou Draghi. O BCE projeta uma taxa de inflação próxima dos 2%.
Os bancos centrais dos 19 países da zona do euro se encarregarão das compras mas só assumirão coletivamente o risco de 20% desses títulos. Isso significa que as eventuais perdas serão assumidas por todos os contribuintes da zona do euro.
Para os 80% restantes, cada banco central comprará seus títulos em seu país e assumirá os riscos.
Não é o remédio
Objeto de um grande debate, a decisão de implementar agora esse programa de injeção de liquidez foi adotada por "uma ampla maioria, mas não unânime" entre os governadores do BCE, afirmou Draghi. Mas, segundo ele, "ao final houve consenso para compartilhar os riscos" sobre os ativos comprados.
"O BCE respondeu às expectativas mas não será o remédio", comentou Jonathan Loynes, economista da Capital Economics, estimando que a decisão de compartilhar riscos pode reduzir o benefício do programa para os países europeus muito endividados.
Draghi acredita que a compra das dívidas contribuirá com o aumento dos preços e que a inflação aumentará progressivamente em 2015 e 2016.
Os governos devem agir
O presidente da instituição monetária europeia instou os governos da zona do euro e a Comissão Europeia a agirem em apoio à economia.
"A política monetária pode criar as bases para o crescimento mas para que o crescimento se fortaleça são necessários os investimentos", avaliou.
Um eventual relaxamento dos esforços dos governos na hora de executar reformas impopulares é de fato uma das preocupações de Berlim, que finalmente aceitou a contragosto o programa do BCE.
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse em Davos, onde participa no Fórum Econômico Mundial, que a "decisão do BCE não deve nos desviar de nosso caminho" das reformas necessárias para os governos europeus.
Alguns, em particular na Alemanha, preferiam que o conselho de governadores aguardasse os efeitos da vertiginosa queda dos preços do petróleo na conjuntura econômica e na inflação.
Há semanas Draghi tentava convencer a todos da necessidade de uma ação contundente.
As medidas adotadas até agora -taxas historicamente baixas, grandes empréstimos aos bancos europeus, compras de alguns ativos financeiros - não foram suficientes para recuperar a dinâmica dos preços.
Em dezembro, a inflação na zona do euro passou a terreno negativo (-0,2%) pela primeira vez desde 2009. Embora a queda dos preços do petróleo tenha influenciado, a inflação subjacente (sem contar alimentação e energia), de 0,7% no mês passado, continua muito baixa em relação à meta do BCE, em torno de 2%.