BCE: o conselho de diretores da instituição de Frankfurt decidiu continuar com sua vasta compra da dívida pública e privada (Ralph Orlowski/Bloomberg)
AFP
Publicado em 8 de dezembro de 2016 às 17h11.
O Banco Central Europeu decidiu prolongar seu programa de compra da dívida para apoiar a economia europeia até o final de 2017, apesar de que em volumes mais modestos, uma decisão inesperada que poderá constituir o início de uma política monetária mais restritiva na zona euro.
O conselho de diretores da instituição de Frankfurt decidiu continuar com sua vasta compra da dívida pública e privada, atualmente fixada em 80 bilhões de euros por mês, como estava previsto, até o final de 2017, e depois prolongará o programa a um ritmo de 60 bilhões de dólares mensais.
As compras poderão ser estendidas além desta data se for necessário, indicou o BCE.
Estas injeções maciças de dinheiro na economia, medidas excepcionais colocadas em andamento pelo BCE, têm por objetivo estimular o crescimento na zona euro.
"O BCE acaba de surpreender ao anunciar que vai prorrogar seu programa de Expansão Quantitativa (Quantitive Easing) em ao menos nove meses", reagiu Carsten Brzeski, economista do ING Diba.
"Inclusive sem chamá-lo de 'tapering', o BCE acaba de anunciar um tapering", considerou, aludindo ao atermo que designa uma redução da compra da dívida e marca de forma mais global o início de uma política monetária mais restritiva.
"Não se discutiu um 'tapering'", insistiu em coletiva de imprensa o presidente da entidade, Mario Draghi.
Em qualquer caso, a política do BCE ainda é acomodatícia e continuará sendo nos próximos meses, inclusive se o volume de compra de títulos for mais limitado.
Além disso, como estava previsto, manteve sua taxa diretriz no nível historicamente baixo de 0%. O juro marginal de crédito continuará em 0,25%, como estava desde março passado, enquanto que o juro de depósito, que entrou no território negativo pela primeira vez em junho de 2014, se situa agora em -0,40%.
O BCE continua preocupado com uma inflação muito baixa na zona euro. Com 0,6% em um ano em novembro, se afasta de seu objetivo de ao menos 2%.
O Banco Central está consciente de que os riscos geopolíticos atuais poderão entorpecer o crescimento europeu visando a uma recuperação.
Os eventos recentes mostram que esses elementos se transformaram na fonte maior de incertezas para os próximos meses, conforme declarou Draghi em um discurso no final de novembro ante o Parlamento Europeu em Bruxelas, em referência ao Brexit e à escolha de Donald Trump, partidário do protecionismo.
O impacto econômico da decisão do Reino Unido de sair da União Europeia e da chegada de Trump ao poder ainda continuam sendo incógnitas.
Nesta quinta, o BCE elevou levemente suas previsões de crescimento e de inflação da zona euro para 2017, respectivamente de 1,7% e 1,3%, frente a 1,6% e 1,2% que calculava até agora. Para 2018, o crescimento será de 1,6% e a inflação de 1,5%, segundo a entidade.
A incerteza na Itália, depois que o primeiro-ministro Matteo Renzi se demitiu pelo fracasso de seu referendo constitucional de domingo passado, também não é tranquilizadora, além deste país estar em um momento de grave crise bancária.
E, mais globalmente, o avanço do populismo na Europa preocupa a poucos meses de que sejam celebradas eleições na Holanda, França e Alemanha.