Ilan Goldfajn: "A gente sempre disse que ia decidir reduzir o estoque de swaps se e quando houver condições" (Agência Brasil/Fabio Rodrigues Pozzebom)
Da Redação
Publicado em 16 de setembro de 2016 às 10h36.
Brasília - O Banco Central enxerga menor espaço para redução do estoque de swaps cambiais tradicionais --equivalentes à venda futura de dólares-- diante da perspectiva de aumento dos juros nos Estados Unidos batendo à porta, afirmou o presidente da autoridade, Ilan Goldfajn.
"A gente sempre disse que ia decidir reduzir o estoque de swaps se e quando houver condições. A gente avaliou que as condições estão mudando", disse Ilan em entrevista à Reuters na tarde de quinta-feira.
"O mercado ficou mais pressionado, nós estamos vendo a normalização das condições monetárias nos Estados Unidos avançando. Não é para hoje, mas está parecendo que está nesse caminho. Isso altera as condições, se altera as condições eu altero o que estou fazendo", completou.
Segundo Ilan, o BC irá reduzir o estoque de swaps -- hoje na casa de 36 bilhões de dólares, ante 108 bilhões de dólares no começo do ano-- numa velocidade que não pressione o mercado.
Questionado se a meta é zerá-lo, Ilan foi mais evasivo. "Eu não tenho esse objetivo no momento e também não sou contra", afirmou.
O presidente do BC repetiu que o regime de câmbio no país é flutuante e que a autoridade monetária não quer influenciar o mercado "nem para um lado, nem para o outro", buscando deixar as tendências de mercado funcionarem.
Na terça-feira, o BC anunciou menor intervenção no mercado de câmbio com leilão de até 5 mil swaps cambiais reversos, equivalentes à compra futura de dólares.
O instrumento vinha sendo utilizado com maior apetite, em meio ao cenário de valorização do real frente ao dólar.
Em agosto, o BC chegou a elevar a oferta para 15 mil contratos, mas voltou a reduzi-la para 10 mil ao longo do mês e vinha mantendo esse ritmo desde então.
A menor oferta de swaps reversos vem na esteira de uma mudança recente nos rumos do câmbio, embalada por apostas de aperto monetário nos Estados Unidos, investida que eleva a atratividade dos títulos públicos norte-americanos, aumentando a pressão pelo fortalecimento do dólar.
Ilan avaliou que o movimento de normalização da política monetária nos EUA parece ser de fato uma tendência a caminho, ainda que não aconteça na próxima semana ou mês.
Ponderou, contudo, que enquanto os juros no restante do mundo seguem muito baixos, as economias emergentes, incluindo o Brasil, deveriam aproveitar o momento para realizar reformas e ajustes.
"As economias emergentes deveriam aproveitar esse interregno benigno para tentar ajustar suas economias aprovando reformas, fazendo os ajustes."
Corte na Selic
Durante a entrevista, o presidente do BC se esquivou de comentar os dados mais recentes de inflação e reforçou que uma melhoria nas condições estipuladas para cortar os juros precisa estar no radar antes de qualquer investida, sendo que o balanço desses fatores não obedece a uma fórmula exata.
Quando decidiu manter a Selic em 14,25 por cento ao ano no fim de agosto, o BC abandonou em seu comunicado a expressão de que não havia espaço para diminuir os juros.
Mas ressalvou que, antes de uma tesourada, o BC precisa ver avanços em relação à persistência dos efeitos do choque de alimentos na inflação.
Também ponderou que componentes do IPCA mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica devem indicar desinflação em velocidade adequada, e que a incerteza sobre os ajustes necessários na economia precisa diminuir, mencionando diretamente as medidas fiscais.
Na ata do comunicado, divulgada na semana passada, o BC especificou que não há fator que seja determinante por si só para as decisões de política monetária.
Segundo Ilan, isso significa que a avaliação vai envolver um julgamento subjetivo sobre evidências.
"Suponha que inflação de alimentos caia muito. Não significa que isso necessariamente vai afetar completamente a decisão de política monetária", exemplificou.
Ele também afirmou que o BC não quer se prender a eventos ou datas, amarrando, por exemplo, uma visão positiva do ajuste fiscal à aprovação em comissão da Câmara dos Deputados da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita os avanços dos gastos públicos à inflação do ano anterior.
Questionado, por outro lado, se todos os três fatores deveriam melhorar para o BC reduzir a Selic, Ilan respondeu que não necessariamente.
"Eu vou ter que olhar a combinação deles para fazer um balanço", afirmou. "O problema aqui é que eu não consigo dizer para vocês o exato peso de cada um neste momento."
"O que eu quero comunicar é que se você acha que fatores vão melhorar é (mensagem) dovish, se você acha que fatores vão piorar é hawkish", acrescentou Ilan, em referência a expressões utilizadas no mercado para designar uma postura mais inclinada ao relaxamento ou ao aperto monetário, respectivamente.
Medidas adicionais
De acordo com Ilan, o BC não descarta pedir aval do Congresso para criação de depósitos bancários voluntários remunerados como instrumento adicional às compromissadas para enxugar ou injetar liquidez no mercado.
A ideia chegou a ser proposta pelo governo da ex-presidente Dilma Rousseff em março, mas não seguiu adiante desde então.
Falando sobre a securitização da dívida ativa da União, cujo projeto segue em análise pelos parlamentares, Ilan disse que eventuais recursos recebidos pela União abaterão parte da dívida pública, mas não entrarão no cálculo do resultado primário.