Economia: BC reduziu sua perspectiva de expansão da economia brasileira, não enxergando recuperação mais consistente no curto prazo (Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas)
Da Redação
Publicado em 23 de dezembro de 2014 às 09h11.
São Paulo - O Banco Central reforçou nesta terça-feira que a política monetária continuará apertada por algum tempo, ao piorar seus cenários de inflação para este e o próximo ano e ver que em 2016 ela ainda deverá ficar acima do centro da meta oficial.
Ao mesmo tempo, o BC reduziu sua perspectiva de expansão da economia brasileira, não enxergando recuperação mais consistente no curto prazo.
Segundo o Relatório Trimestral de Inflação do BC divulgado nesta manhã, a inflação medida pelo IPCA subirá 6,4 por cento neste ano pelo cenário de referência, acima dos 6,3 por cento previstos anteriormente.
Para 2015, o BC vê agora alta de 6,1 por cento do IPCA, sobre estimativa anterior de 5,8 por cento. Em 2016, os preços devem subir 5 por cento. A meta de inflação é de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos. O indicador tem permanecido acima do teto em 12 meses, como em novembro, quando atingiu 6,56 por cento.
"Ele (BC) deu o tom um pouco mais agressivo para política monetária", avaliou a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro, que vê que a taxa básica de juros subindo a 12,50 por cento, acima dos 12,25 por cento que ela esperava até então.
Para conter a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deu início a um novo ciclo de aperto monetário em outubro, quando elevou a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 11,25 por cento ao ano. No começo de dezembro, o Copom acelerou o aperto, aumentando o juro em 0,50 ponto, para 11,75 por cento.
No relatório de inflação, o BC destacou que, "em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação... persistam no horizonte relevante para a política monetária".
"Nesse sentido, o comitê irá fazer o que for necessário para que no próximo ano a inflação entre em longo período de declínio, que a levará à meta de 4,5 por cento em 2016", acrescentou a autoridade monetária.
No relatório, o BC informou ainda que "não descarta" a inflação no curto prazo subindo mais e que deve permanecer elevada em 2015, mas também vê que no próximo ano ela entrará "em longo período de declínio".
O presidente do BC, Alexandre Tombini, já afirmou que a inflação no país atingirá seu pico no primeiro trimestre de 2015. Segundo ele, o cenário mais provável é de que a inflação inicie processo de declínio no segundo trimestre do ano que vem e retorne à trajetória de convergência ao centro da meta até o fim de 2016.
No cenário de referência do relatório de inflação, o BC considerou o dólar constante a 2,55 reais e a Selic no patamar atual de 11,75 por cento.
Ainda no cenário de referência, a probabilidade estimada pelo BC de a inflação ultrapassar o limite superior do intervalo de tolerância da meta se situa em torno de 37 por cento em 2014 e de 31 por cento em 2015.
Câmbio e administrados
O BC repetiu ainda que a inflação continua elevada por causa do câmbio e dos preços administrados. O dólar acumulou alta de quase 15 por cento sobre o real entre setembro e novembro. Na semana passada, a moeda norte-americana se aproximou de 2,80 reais durante os negócios, maior patamar em quase dez anos.
Em suas avaliações sobre o cenário de inflação no relatório divulgado nesta manhã, o BC não usou mais a palavra "parcimônia", como o fez para justificar a alta de 0,50 ponto na Selic no início deste mês. A palavra aparece apenas no anexo do documento, que reproduz a ata da última reunião do Copom.
PIB menor
No relatório de inflação, o BC reduziu sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2014 a 0,2 por cento, ante 0,7 por cento calculados até então. No curto prazo, o cenário não melhora muito, com a economia crescendo apenas 0,6 por cento em quatro trimestres até o terceiro trimestre de 2015.