Economia

BC reduz os juros pela 1ª vez no governo Dilma

Após cinco aumentos seguidos do juro entre janeiro e julho o Copom do BC entendeu que não havia razão para continuar subindo o juro

Habituada a cultivar a imagem de "gerentona", Dilma sairá mais do gabinete (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Habituada a cultivar a imagem de "gerentona", Dilma sairá mais do gabinete (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

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Da Redação

Publicado em 31 de agosto de 2011 às 22h00.

Brasília - A "substancial deterioração" do quadro econômico global nas últimas semanas e a pressão de última hora vinda do próprio governo fez o Banco Central manobrar a economia em 180 graus. Influenciado pela percepção de que a crise deve manter a economia mundial em ritmo lento por "um período de tempo maior do que o antecipado", a instituição preferiu interromper o ciclo de alta iniciado em janeiro e anunciou hoje a redução da taxa básica de juros do País em 0,50 ponto porcentual, para 12% ao ano. É a primeira redução dos juros no governo Dilma.

Após cinco aumentos seguidos do juro entre janeiro e julho - que somaram 1,75 ponto à taxa Selic - o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC entendeu que não havia razão para continuar subindo o juro. Pelo contrário, mudou radicalmente de opinião em 45 dias. Assim, os diretores do BC mostram que, após meses de trabalho para segurar a alta da inflação e esfriar a economia, agora é necessário acelerar a atividade econômica em reação à crise global.

"O Comitê avalia que o cenário internacional manifesta viés desinflacionário no horizonte relevante", cita o comunicado após a decisão que, pela primeira vez em muito tempo, tem duas páginas de explicações.

A principal mudança para essa a avaliação do BC veio do exterior. O rebaixamento da nota de risco dos EUA no início do mês deflagrou uma série de revisões para pior das projeções dos economistas sobre o que deve acontecer com a economia mundial nos próximos meses. A percepção geral é que países centrais devem demorar ainda mais para sair da crise e crescer. Para o BC, o quadro representa maior incerteza da influência externa sobre o mundo e, claro, o Brasil.


"Para o Copom, a transmissão dos desenvolvimentos externos para a economia brasileira pode se materializar por intermédio de diversos canais, entre outros, redução da corrente de comércio, moderação do fluxo de investimentos, condições de crédito mais restritivas e piora no sentimento de consumidores e empresários", cita o documento.

Se economias centrais crescerem menos, a demanda por produtos e serviços brasileiros seguirá fraca. Isso vai reduzir o ritmo da economia doméstica. O Bradesco, por exemplo, prevê que, se a economia mundial crescer 1 ponto porcentual menos, a expansão no Brasil deve perder pelo menos 0,65 ponto. Menos crescimento reduz a pressão de alta nos preços e diminui a necessidade de elevar o juro para manter a inflação sob controle.

Mesmo sem o quadro externo, o noticiário local já apontava para o fim do ciclo de aperto dos juros. Um dos principais sinais veio do Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), dado que antecipa o comportamento do PIB e mostrou em junho a primeira queda desde dezembro de 2008. No mercado de trabalho, a criação de empregos tem perdido força e o próprio BC divulgou números que mostram desaceleração no ritmo de concessão de empréstimos.

Mas essa virada na política monetária teve uma ajuda política. A redução do juro 45 dias após o último aumento era um desejo do Palácio do Planalto e de membros da equipe econômica, como o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Houve um esforço de última hora em anunciar aumento da economia feita pelo governo para pagar a dívida (superávit primário) como forma de abrir caminho para os cortes do juro.

Com isso, o BC ignora a inflação que segue em ritmo elevado. Nos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo tem alta acumulada de 6,87%, acima do teto da meta de inflação que é de 6,50%. Para os próximos 12 meses, a expectativa para o IPCA é de 5,47%.

"O sinal do BC é que, após a piora recente, o quadro internacional não está feio, está horroroso. Porque no Brasil estamos mais para auge que para o descenso da economia. Ou seja, é o quadro externo que determinou essa decisão", diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

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