Economia

BC: pressão para elevação dos gastos é menor hoje

Brasília - O chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, reconheceu hoje que as eleições de outubro influenciam no aumento do gasto público, mas ele afirma que a pressão para elevação das despesas é, atualmente, menor que a vista há alguns anos. "Essa correlação perdeu o elo forte que existia no passado. […]

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h45.

Brasília - O chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, reconheceu hoje que as eleições de outubro influenciam no aumento do gasto público, mas ele afirma que a pressão para elevação das despesas é, atualmente, menor que a vista há alguns anos.

"Essa correlação perdeu o elo forte que existia no passado. Pode-se dizer que essa correlação ainda existe, mas é bem menor que no passado", afirmou o analista do BC, durante entrevista coletiva.

Para Altamir, houve "mudança de cultura" na administração pública nos últimos anos com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que reduz o espaço para o aumento do gasto público nos períodos que antecedem as eleições. "Hoje, há travas impostas pela Lei", resume. Durante a entrevista para apresentar as contas do setor público em junho, Altamir Lopes também destacou o investimento público, que aumentou 72% no ano. Apesar da alta expressiva, ele afirma que a expansão dos investimentos não pode ser explicada apenas pelas eleições. "O investimento cresce por razões outras. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), por exemplo, trouxe outra dinâmica para os investimentos públicos", citou.

Como resultado do gasto maior, o relatório divulgado pelo BC mostra que o superávit primário do mês passado do setor público consolidado, de R$ 2,059 bilhões, foi o pior para junho desde 2006. Situação semelhante ocorreu nos governos regionais. Nos Estados, o esforço de R$ 985 milhões foi o pior para o mês de junho desde 2006, outro ano eleitoral. No caso das prefeituras, a situação é ainda pior: o resultado de R$ 714 milhões foi o mais baixo para os meses de junho desde o início da série histórica, em 2001. O superávit primário representa a economia para o pagamento dos juros da dívida pública.

Para Altamir, o baixo resultado do setor público é diretamente influenciado pelo aumento dos investimentos. No caso dos governos regionais, os investimentos também explicariam o fraco resultado, já que muitos projetos exigem contrapartida, o que reduz o caixa de Estados e municípios.

Acomodação

Altamir disse ainda que espera uma melhora do resultado fiscal do setor público ao longo do segundo semestre. Para ele, a tendência é de uma acomodação do ritmo de alta das despesas, refletindo as restrições pré-eleitorais e também o encerramento do processo de reestruturação de carreiras no serviço público. Por outro lado, as receitas devem seguir em trajetória de alta, reforçando o resultado primário. "Espero um resultado mais expressivo no segundo semestre", afirmou.

O chefe do Departamento Econômico do BC reafirmou a expectativa de que o governo cumpra a meta de superávit primário de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Desta vez, no entanto, ele fez menção direta ao secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que tem manifestado compromisso de cumprir a meta sem o uso de abatimentos dos investimentos do PAC.

Nos 12 meses encerrados em junho, o superávit primário do setor público foi de 2,07% do PIB, abaixo inclusive do piso da meta considerando os gastos do PAC, que é de 2,4% do PIB. Altamir explicou que o resultado fiscal deste ano está influenciado pelo ritmo forte de expansão dos investimentos, que elevam o gasto público. Mas ele ressaltou que o aumento de despesas nessa rubrica mostra uma melhor qualidade do gasto público. "Elevar investimento sempre é positivo", disse.

Relação dívida/PIB

Altamir anunciou ainda que a estimativa oficial da instituição para a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB para julho é de 41,4%, exatamente o mesmo patamar registrado em junho e em maio deste ano. Segundo ele, a estimativa leva em conta a manutenção da taxa de câmbio em R$ 1,77.
 

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralEleiçõesGestão públicaMercado financeiro

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto