Arminio Fraga discute a relação entre juros elevados e a política fiscal no Brasil (Leandro Fonseca/Exame)
Agência de notícias
Publicado em 12 de fevereiro de 2025 às 17h43.
Com a curva de juros em patamar elevado e a relação dívida/PIB subindo rapidamente, o Brasil apresenta "sintomas graves" e, segundo Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, a única solução para ajudar o trabalho da autarquia neste cenário é a política fiscal. Esta foi a avaliação de Fraga em conversa com Gabriel Galípolo, indicado por Lula para a presidência do Banco Central, durante sua primeira palestra no cargo, realizada nesta quarta-feira.
"A curva de juros está lá na Lua, a perder de vista. As expectativas de inflação — não as de curto prazo, mas as taxas implícitas, em 6% — estão a perder de vista, sugerem um problema. E o problema em última instância é que o BC precisa de ajuda. E só tem um lugar que pode ajudar: é o fiscal", afirmou Fraga.
O sócio-fundador da Gávea Investimentos, que acompanhava na plateia o seminário do novo presidente do BC, disse que Galípolo terá que tomar um "suco amargo", em referência à subida da taxa de juros básica, a Selic, para frear os preços e desaquecer a economia. Por outro lado, afirmou que Galípolo pode trazer o debate sobre controle das contas públicas para facilitar o trabalho da política monetária.
"Você, como uma pessoa de confiança das altas autoridades, talvez possa convencê-lo (em alusão ao presidente Lula e ao governo) de que não tem mágica. Isso que aconteceu até agora foi muito bom, o desemprego está baixo. É um sonho. Mas a festa agora meio que acabou. E não é um problema de comunicação (do governo)", disse Fraga.
Fraga, que presidiu o Banco Central entre 1999 e 2003, afirmou que o remédio (juros mais altos) irá funcionar para desaquecer a atividade, mas que a autarquia "não faz milagre". O economista destacou que pode ser difícil para Galípolo dar declarações sobre os gastos públicos, mas reforçou que o debate precisa ocorrer e o assunto parece não estar na agenda do governo.
"O paciente (em referência à economia brasileira) está na UTI. Não precisa nem entrar na discussão se é trágico, se é dominância fiscal. Isso é muito acadêmico. Mas o 'mix macro' precisa mudar e acho que isso não parece estar na agenda", concluiu Fraga.
Em resposta, o atual presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reconheceu o desafio de ser porta-voz da autarquia em dois aspectos. O primeiro é encontrar o limite do que cabe à autoridade monetária comunicar e como informar suas decisões da forma correta.
Este impasse, segundo Galípolo, parece superado já que ele tem tido "espaço e voz" para isso, tentando traduzir ao mercado o que está acontecendo. Já o segundo é identificar até onde deve ir a atuação da autoridade monetária:
"Isso faz parte de um desafio que é não cruzar uma linha e não transcender o quadrado da política monetária. Mas você colocou um tema (política fiscal) de uma maneira que é um dos temas que temos que 'esgrimar' agora", pontuou Galípolo, em resposta a Arminio.