Reunião do Copom: membros do Comitê ponderaram um corte maior na taxa básica de juros (Adriano Machado / Reuters)
Reuters
Publicado em 6 de dezembro de 2016 às 08h58.
Última atualização em 6 de dezembro de 2016 às 09h22.
São Paulo - O Banco Central discutiu aumentar o ritmo de cortes da taxa básica de juros na semana passada, com alguns dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) defendendo que a evolução favorável da inflação, a aprovação inicial de medidas fiscais e o ritmo fraco da economia justificariam o movimento.
No entanto, outros membros argumentaram que a evolução de "alguns componentes da inflação mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária continuava indicando pausa" e que o cenário externo ficaria mais sensível para as economias emergentes.
"Esses mesmos membros ponderaram, entretanto, que é razoável esperar uma intensificação do processo de flexibilização monetária caso a atividade econômica não dê sinais mais claros de retomada, posto que nesse caso as projeções de inflação devem se reduzir", trouxe a ata do Copom divulgada nesta terça-feira.
Na semana passada, o BC decidiu dar sequência ao ciclo de afrouxamento da Selic com mais um corte de 0,25 ponto percentual, o segundo seguido, levando-a a 13,75 por cento ao ano.
Citou, naquele momento, além do cenário externo e a atividade econômica no Brasil, o andamento das medidas de ajuste fiscal e desinflação mais difundida, argumentos repetidos na ata.
As avaliações feita pelo BC, no entanto, não levam em conta o revés político que o governo de Michel Temer levou na noite passada, com o afastamento de Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado por liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) e que pode atrapalhar a votação das medidas de ajuste fiscal, em especial a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o crescimento dos gastos públicos.
Também não incluiu o aumento de preços da gasolina e do diesel nas refinarias anunciado pela Petrobras. Se o ajuste for integralmente repassado ao consumidor, o preço do diesel pode subir 5,5 por cento e da gasolina, 3,4 por cento.
Na ata, o Copom voltou a afirmar que o "processo de desinflação depende de ambiente externo adequado" mas que, no entanto, não há "relação mecânica entre o cenário externo e a política monetária".
Também afirmou que havia riscos associados ao possível fim do ambiente relativamente benigno para economias emergentes, sem citar explicitamente a vitória do republicano Donald Trump na disputa pela Presidência dos Estados Unidos, que levou a uma onda de aversão ao risco nos mercados financeiros globais.
O BC repetiu ainda que a "convergência da inflação para a meta em 2017 e 2018 é compatível com processo gradual de flexibilização monetária" e também reiterou que a magnitude da flexibilização monetária e a intensificação do seu ritmo dependerão, daqui para frente, das projeções e expectativas de inflação e da evolução dos fatores de risco.
Na pesquisa Focus mais recente, realizada pelo BC com mais de uma centena de economistas todas as semanas, a perspectiva para a taxa básica de juros em 2017 foi reduzida pela primeira vez em quatro semanas, a 10,5 por cento ao fim do próximo ano, ao mesmo tempo em que a estimativa para o PIB piorou para uma alta de 0,8 por cento, abaixo da projeção oficial do governo de expansão de 1 por cento.
Enquanto o mercado vê a inflação em 4,93 por cento em 2017 e 4,50 por cento em 2018, o BC repetiu na ata do Copom que sua projeção pelo cenário de referência é de alta do IPCA de 4,4 por cento em 2017 e de 3,6 por cento para 2018 --em ambos os casos abaixo do centro da meta.
O centro da meta de inflação deste ano e dos dois próximos é de 4,5 por cento pelo IPCA, mas com margens de tolerância diferentes. Para 2016, essa banda é de 2 pontos percentuais, caindo a 1,5 ponto para 2017 e 2018.