Economia

BC deve atacar risco de inflação "notadamente" em 2014

Banco Central afirmou que vai permanecer "especialmente vigilante" a fim de evitar que a pressão sobre os preços persistam


	Homem passa pelo edifício do Banco Central em Brasília: BC indicou que a velocidade do ciclo de alta da taxa básica de juro deve ser comedida
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

Homem passa pelo edifício do Banco Central em Brasília: BC indicou que a velocidade do ciclo de alta da taxa básica de juro deve ser comedida (Ueslei Marcelino/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 25 de abril de 2013 às 12h11.

São Paulo - O Banco Central deixou claro nesta quinta-feira que a atual política monetária tem como alvo principal atacar a inflação em 2014, cuja projeção foi elevada, e que vai permanecer "especialmente vigilante" a fim de evitar que a pressão sobre os preços persistam.

O sinal foi dado na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC e, na avaliação de especialistas, também indicou que a velocidade do ciclo de alta da taxa básica de juro deve ser comedida.

"O julgamento de todos os membros do Copom é convergente no que se refere à necessidade de uma ação de política monetária destinada a neutralizar riscos que se apresentam no cenário prospectivo para a inflação, notadamente para o próximo ano", mostrou a ata.

Na semana passada, o Copom deu início a mais um ciclo de aperto monetário, ao elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, a 7,50 por cento ao ano, mas deixou claro que vai conduzir o processo com "cautela", termo que repetiu na ata desta quinta-feira.

A decisão de elevar o juro, no entanto, não foi unânime, com dois dos oito membros optando pela manutenção da taxa básica na mínima histórica de 7,25 por cento.

A ata mostrou que os diretores Aldo Mendes (Política Monetária) e Luiz Awazu (Assuntos Internacionais e Regulação do Sistema Financeiro) entendem que está havendo uma reavaliação do crescimento global e que, dependendo da sua intensidade e duração, isso pode auxiliar nos preços domésticos. Ambos defenderam que não seria necessária a elevação da Selic imediatamente.

A posição geral do BC, segundo a ata do Copom, reforçou a percepção do mercado e de economistas de que as próximas altas da Selic virão de forma comedida.


"A ata confirma que a referência (do BC) é a inflação de 2014... As expectativas para 2013 estão dadas, mas permanece uma situação incômoda para 2014", afirmou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, que vê mais duas altas da Selic de 0,25 ponto, a 8 por cento ao ano.

No mercado futuro de juros, investidores corroboravam nesta manhã as apostas de mais três altas na taxa de 0,25 ponto percentual, com os contratos futuros de juros sendo negociados praticamente estáveis.

Inflação maior em 2014

Pela ata, o BC piorou seu cenário de inflação para 2014, afirmando que ela se encontra acima do centro da meta oficial, de 4,5 por cento pelo IPCA, levando em conta o cenário de referência. Já para 2013, a autoridade monetária manteve sua estimativa de inflação, também acima do centro da meta. O documento não traz projeções numéricas, apenas qualitativas sobre a inflação.

"O Copom destaca que, em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação como o observado nos últimos 12 meses persistam no horizonte relevante para a política monetária", segundo o documento.

A inflação tem permanecido em patamares elevados e chegou a estourar o teto da meta do governo, de 6,50 por cento no ano. Em março, o IPCA registrou alta 6,59 por cento em 12 meses e, em abril, o IPCA-15 --sua prévia-- mostrou avanço de 0,51 por cento, acumulando 6,51 por cento em 12 meses.


Os preços dos alimentos têm sido um dos principais vilões da inflação, junto com serviços, levando o governo a adotar diversas medidas fiscais para amenizar a pressão. A última delas envolveu o setor de etanol.

A visão de inflação pressionada contempla ainda a expectativa de recuperação da atividade econômica, que já está em curso na avaliação do BC. Para o colegiado do BC, "o cenário central contempla ritmo de atividade doméstica mais intenso neste e no próximo ano", acrescentando que a pequena margem de ociosidade no mercado de trabalho pode ser um risco.

Na ata anterior, de março, o Copom havia ponderado que o ritmo de atividade econômica doméstica estava "menos intensa do que se antecipava".

Sobre política fiscal, o Copom ressaltou que seu cenário de inflação contempla a meta cheia de superávit primário para este ano, de 155,9 bilhões de reais, "não obstante iniciativas recentes apontarem o balanço do setor público em posição expansionista".

No início da semana passada, o governo flexibilizou a política fiscal, buscando ter mais possibilidade de abatimento das metas de superávit primário neste e no próximo ano.

"A conclusão mais importante é que o ciclo vai ser dado pelo crescimento, e não pela inflação. Ele (BC) esta confiante nessa retomada econômica no longo prazo", afirmou o economista-chefe da corretora Votorantim, Roberto Padovani, para quem a Selic será elevada em mais quatro vezes, chegando a 8,50 por cento ao ano.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralInflaçãoMercado financeiroPolítica monetária

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto