Economia

BC admite descolamento grande em preços a produtores e consumidores

Em seu Relatório Trimestral de Inflação, o BC admitiu a existência de alguns componentes com maior discrepância nos três meses encerrados em agosto

Bomba de gasolina: o BC ponderou que, nos meses anteriores, o descolamento nos preços de combustíveis teve magnitude grande em sentido contrário (Busakorn Pongparnit/Getty Images)

Bomba de gasolina: o BC ponderou que, nos meses anteriores, o descolamento nos preços de combustíveis teve magnitude grande em sentido contrário (Busakorn Pongparnit/Getty Images)

R

Reuters

Publicado em 24 de setembro de 2020 às 10h07.

Última atualização em 24 de setembro de 2020 às 10h18.

O Banco Central reconheceu nesta quinta-feira um descolamento grande entre a inflação ao produtor (IPA) e ao consumidor (IPCA), com a diferença observada em agosto tendo sido a maior desde 2003 considerando variações em trimestres móveis, mas indicou que a evolução dos preços de combustíveis é parte importante do fenômeno.

Em box publicado em seu Relatório Trimestral de Inflação, o BC fez uma análise de componentes similares nos dois índices, já que o IPA puro não inclui serviços, mas abarca, com peso relevante, bens que são em grande parte exportados, como soja e minério de ferro.

Considerando esse recorte, o BC admitiu a existência de alguns componentes com maior discrepância nos três meses encerrados em agosto: combustíveis para veículos, leites e derivados, combustíveis domésticos (GLP) e veículos próprios.

"Destaca-se a grande influência de combustíveis para veículos, que contribuiu com -2,5 pontos percentuais para a diferença de -4,5 pontos percentuais entre IPCA-correspondente e IPA-correspondente", disse o BC.

A autoridade monetária ponderou que, nos meses anteriores, o descolamento nos preços de combustíveis teve magnitude grande em sentido contrário.

"Tais discrepâncias podem advir de repasse incompleto – por exemplo, pelo fato de o preço ao produtor ser apenas uma parte do preço final ao consumidor –, de repasse defasado, ou mesmo de imperfeições no mapeamento. No caso de combustíveis para veículos, a primeira hipótese parece explicar a maior parte do descolamento", afirmou.

Segundo o BC, é possível que o movimento distinto do IPCA-correspondente e do IPA-correspondente reflita parcialmente alguma defasagem de repasse em determinados itens. Mesmo assim, disse acreditar que as condições atuais da economia, com elevado grau de ociosidade, "podem contribuir para que o eventual repasse seja menor que o usual".

O fato da inflação ao produtor ter disparado nas últimas leituras acendeu o alerta quanto a repasses subsequentes para os consumidores, o que tenderia a pressionar o IPCA para cima.

No relatório desta quinta-feira, contudo, o BC voltou a avaliar que "diversas medidas de inflação subjacente permanecem abaixo dos níveis compatíveis com o cumprimento da meta", dada pelo IPCA.

No curto prazo, o BC vê alta do IPCA de 0,40% em setembro, 0,30% em outubro e 0,27% em novembro. A inflação acumulada em 12 meses deve então cair de 2,85% em novembro para cerca de 2,1% em dezembro, "com o descarte da alta atipicamente elevada observada em dezembro de 2019, na esteira do choque nos preços das carnes".

A meta de inflação deste ano é de 4% pelo IPCA, com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos.

(Por Marcela Ayres; Edição de Camila Moreira)

Acompanhe tudo sobre:Banco Centraleconomia-brasileiraInflaçãoIPCA

Mais de Economia

BNDES firma acordo de R$ 1,2 bilhão com a Agência Francesa para projetos no Brasil

Se Trump deportar 7,5 milhões de pessoas, inflação explode nos EUA, diz Campos Neto

Câmara aprova projeto do governo que busca baratear custo de crédito