Economia

BC admite chance de estouro da meta da inflação no ano

Segundo o BC, no entanto, a deterioração do cenário internacional garantirá a convergência do IPCA ao centro da meta de 4,5 por cento em 2012

Alexandre Tombini também destacou avanços recentes, como a unificação do mercado de câmbio em 2005 e o fim da obrigatoriedade da cobertura cambial nas importações e exportações em 2006 (Marcello Casal Jr/ABr)

Alexandre Tombini também destacou avanços recentes, como a unificação do mercado de câmbio em 2005 e o fim da obrigatoriedade da cobertura cambial nas importações e exportações em 2006 (Marcello Casal Jr/ABr)

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Da Redação

Publicado em 29 de setembro de 2011 às 17h00.

Brasília - O Banco Central admitiu nesta quinta-feira que a inflação pode estourar o teto da meta de 6,5 por cento este ano, mas avaliou que a deterioração do cenário internacional garantirá a convergência do IPCA ao centro da meta de 4,5 por cento em 2012.

A desaceleração global, com "elevada probabilidade" de recessão nas economias maduras, afetará o Brasil por meio da redução da corrente de comércio, moderação dos investimentos, piora no sentimento dos investidores e consumidores e condições de crédito mais restritivas, afirmou o BC em seu Relatório Trimestral de Inflação.

Mais tarde, em entrevista, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, afirmou que o BC também poderá tomar medidas adicionais caso detecte crescimento do mercado de crédito em setores específicos, acima do que considera adequado.

A autoridade monetária elevou de forma expressiva sua projeção de inflação para este ano --para 6,4 por cento, ante estimativa anterior de 5,8 por cento, divulgada em julho-- e afirmou que há 45 por cento de chance de o teto ser ultrapassado. Para o ano que vem, o prognóstico foi reduzido, na contramão das avaliações do mercado. O cenário leva em conta juros e taxa de câmbio estáveis.

"Existe possibilidade de que a inflação este ano fique acima da meta", afirmou Araújo. O Brasil descumpriu sua meta inflacionária pela última vez em 2003.

Ele frisou, contudo, que ainda que as projeções do BC apontem atualmente para uma inflação de 4,7 por cento no final do ano que vem, o IPCA será levado a convergir para os 4,5 por cento nesse período.


"O Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, ajustes moderados no nível da taxa básica são consistentes com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012", afirmou o diretor.

No final de agosto, o BC fez um surpreendente corte de 0,5 ponto na taxa básica de juros, para 12 por cento ao ano, após um ciclo de cinco altas consecutivas.

Recentemente, alguns analistas vinham apostando que esse afrouxamento poderia ser acelerado na reunião de outubro, com um corte de até 1 ponto, mas o documento dessa quinta-feira não referendou essa expectativa.

Para o Itaú Unibanco, a expressão "ajustes moderados" "deve reduzir percepções de que o BC possa elevar os cortes de juros". "Os mercados devem tender de volta a um corte de 50 pontos em outubro", afirmou o banco em relatório.

Chance de recessão

Com a crise internacional cada vez mais intensa, o BC reduziu a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2011 de 4,0 para 3,5 por cento.

Como riscos domésticos, a instituição apontou as chances de repasses da inflação acumulada em 12 meses, em meio a um descompasso entre oferta em demanda e um mercado de trabalho ainda aquecido.

O BC também destacou que a piora das expectativas de inflação podem tornar a dinâmica inflacionária "mais persistente."

Araújo afirmou que o ritmo médio de crescimento de crédito estimado para este ano, de 17 por cento, é "sustentável". Mas ele frisou que, "se nós identificarmos que em algum segmento do mercado de crédito o crescimento está acima do que consideramos adequado, tomaremos as providências".

A autoridade monetária avaliou no relatório um cenário alternativo, em que considerou que o impacto da deterioração das condições internacionais para o Brasil será equivalente a um quarto do impacto observado durante a crise internacional de 2008 e 2009.

Neste caso, mesmo com quedas adicionais dos juros, a inflação ficaria no mesmo patamar do cenário de referência --de 6,4 por cento em 2011 e de 4,7 por cento para 2012.

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