Janet Yellen: o Fed, cujo mandato é velar pela economia norte-americana, é acusado, com frequência, de ser indiferente aos danos colaterais que sua política ocasiona (AFP/Arquivos)
Da Redação
Publicado em 19 de fevereiro de 2014 às 18h22.
A primeira reunião do ano do G20, este fim de semana em Sidney, será o batismo de fogo da presidente do Fed, Janet Yellen, em um momento em que os países emergentes sofrem a mudança da política monetária norte-americana.
Depois de um primeiro alerta no verão de 2013, as divisas de vários emergentes - desde a Argentina à Rússia, passando pela África do Sul e a Turquia - se desvalorizaram com força nas últimas semanas.
Na maioria dos casos, por causa da redução das compras mensais de ativos pelo Federal Reserve norte-americano (Fed) e as expectativas de que o banco central vá aumentar as taxas de juros, atraindo o capital aos Estados Unidos, considerado um mercado mais seguro.
A isso se soma a solidez dessas economias e a de seus governos. Contudo, o Fed, cujo mandato é velar pela economia norte-americana, é acusado, com frequência, de ser indiferente aos danos colaterais que sua política ocasiona.
O responsável do Tesouro australiano e anfitrião do encontro, Joe Hockey, não quer "tagarelice" e considera "sumamente importante" que os ministros das Finanças e os presidentes dos bancos centrais entrem em acordo sobre objetivos de crescimento superiores às previsões atuais.
Contudo, "não ignoramos a instabilidade recente nos mercados financeiros internacionais e, em particular, seu impacto nas economias emergentes", acrescentou.
Uma agenda que satisfaz os Estados Unidos, que vai defender o crescimento, segundo um responsável do Tesouro. Embora as turbulências das moedas emergentes serão um dos "principais eixos de discussão", em seu julgamento, se devem a fatores internos desses países.
Em meados de fevereiro, Janet Yellen, que acabava de assumir suas funções, se limitou a destacar que, neste ponto, a volatilidade "não cria riscos substanciais para as perspectivas econômicas norte-americanas".
O Fed "observa atentamente" esses movimentos, se limitou a declarar no Congresso. Embora reconheça as dificuldades dos emergentes, "parece dizer também 'não é um problema'", explica Adam Hersh, economista da American Progress Action Fund, um centro de pesquisa. "Os países emergentes do G20 não vão receber isso muito bem", observou.
Pressão sobre o Fed
"Os Estados Unidos deveriam se preocupar com os efeitos de suas políticas no resto do mundo", sustentou, no final de janeiro, o presidente do banco central indiano, Raghuram Rajan.
"Gostaríamos de viver em um mundo onde os países levassem em conta os efeitos de suas políticas nos demais, em vez de fazer simplesmente o que é apropriado para eles mesmos", disse.
O Brasil, por outro lado, opina que "já houve correções de percepção de risco, de taxas de juros, e os emergentes têm instrumentos e espaço para enfrentar (as consequências)".
Segundo uma fonte governamental francesa, "é preciso estar atento ao nível coletivo dos efeitos de nossas políticas nas outras economias".
Espera-se que neste fim de semana o Fed explique, como "já fez em ocasiões anteriores, seus objetivos", declarou à AFP.
Janet Yellen já representou o Fed no G20 de julho em Moscou, em substituição do então presidente, Ben Bernanke.
Contudo, "a cooperação monetária é considerada muito difícil já que os bancos centrais têm mandatos nacionais", lembra Philippe Martin, professor de economia.
Os emergentes "não podem esperar grande coisa da reunião de Sidney. Sem dúvida vão tentar pressionar o Fed, mas com um impacto muito pequeno", prevê.
Apesar da desaceleração do crescimento da China, segunda economia mundial, e as turbulências dos emergentes, esta reunião do G20 será realizada em um ambiente mais favorável para a economia mundial.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou para cima, embora levemente, no final de janeiro, as perspectivas de crescimento para 2014, pela primeira vez em quase dois anos, a 3,7% a nível mundial, após 3% em 2013.
Contudo, na Europa há o risco de deflação, um círculo vicioso de queda de preços e salários do qual é difícil se livrar, como ilustra o Japão, atingido por esse mal há 15 anos.
A diretora gerente do FMI, Christine Lagarde, alertou recentemente que os "riscos crescentes de deflação poderiam ser desastrosos para a recuperação", e pediu para combater esse "monstro".