Senado aprova texto da reforma: votação de quarta-feira passada encerrou um tumultuado processo de oito meses marcado por intensas negociações (Andre Coelho/Bloomberg)
Ligia Tuon
Publicado em 28 de outubro de 2019 às 17h01.
Última atualização em 28 de outubro de 2019 às 17h01.
Executivos dos maiores bancos do Brasil foram unânimes em aplaudir a aprovação da tão esperada reforma da Previdência -- e já deixaram claro qual eles acham que deve ser a próxima prioridade do governo.
Com o principal item de sua lista de desejos para a economia cumprido após anos de discussões, banqueiros de instituições como Itaú Unibanco e BTG Pactual agora se empenham na defesa da reforma administrativa, que visa reduzir os custos do funcionalismo público brasileiro, com mudanças nas políticas de remuneração, métricas de produtividade e demissão, entre outras.
“A reforma da Previdência, agora aprovada, juntamente com a reforma administrativa, que será discutida no próximo ano, marcam as etapas finais da estabilização financeira que começou em 1994”, disse Roberto Sallouti, presidente do BTG. “O país poderá se concentrar na agenda de produtividade, melhorando o PIB per capita e a vida dos brasileiros.”
A reforma aprovada pelo Senado estabelece uma idade mínima para a aposentadoria e restringe o acesso a alguns benefícios sociais, mudanças consideradas necessárias para reverter a deterioração das contas públicas.
A votação de quarta-feira passada encerrou um tumultuado processo de oito meses marcado por intensas negociações, reveses e inúmeras concessões para garantir a aprovação da PEC da Previdência, que pode gerar economias de quase US$ 200 bilhões na próxima década.
O próximo item da lista de prioridades dos banqueiros promete ser outra batalha difícil. O governo gastou cerca de R$ 725 bilhões com o funcionalismo público em 2017, de acordo com relatório do Banco Mundial. Os salários são geralmente 96% mais altos do que os de um cargo equivalente no setor privado, mostram os dados.
“É fundamental que o governo e o Congresso continuem a avançar em outras frentes, como as reformas administrativa e tributária, além de medidas que destravem a economia e aumentem a competição nos setores mais importantes da atividade”, afirmou Sergio Rial, presidente do Banco Santander no Brasil.
A continuidade de reformas é vista pelos banqueiros como essencial para fazer a economia crescer mais rapidamente. Candido Bracher, presidente-executivo do Itaú Unibanco, disse que a reforma da Previdência “era uma etapa necessária, ainda que insuficiente, para que o Brasil eleve seu potencial de crescimento”.
A economia brasileira deve crescer apenas 1% pelo terceiro ano consecutivo em 2019 e 2% em 2020, segundo estimativas compiladas pela Bloomberg.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem uma agenda ambiciosa para reduzir o tamanho do Estado - bem em linha com as necessidades do país destacadas por executivos do setor financeiro.
Em entrevista esta semana, Guedes disse que priorizaria o ajuste do orçamento do setor público assim que o governo obtivesse a aprovação da reforma da Previdência. A “agenda de transformação do Estado” inclui o estabelecimento de um chamado Conselho Fiscal da República, reformas administrativas e tributária - embora o projeto desta última deva ser enviado posteriormente.
Embora a maioria dos banqueiros tenha destacado a necessidade de outras medidas, alguns já veem na aprovação da reforma da Previdência um catalisador do otimismo.
Guilherme Benchimol, presidente da XP Investimentos, a maior corretora de varejo do país, classificou a reforma como o “primeiro passo fundamental para demonstrarmos o nível de comprometimento do governo e dos congressistas do Brasil com as contas públicas”, acrescentando que o país está entrando em “um longo e sólido ciclo de crescimento da economia”.
Num governo muitas vezes envolvido em polêmicas - desde disputas políticas às questões ambientais -, a aprovação da reforma da Previdência permite uma “narrativa construtiva em relação à uma agenda positiva do Brasil”, afirmou Octavio de Lazari, presidente do Bradesco, segundo maior banco do país em valor de mercado.
“O crescimento da confiabilidade do Brasil perante o mercado internacional terá efeito notável na atração de mais fluxo de investimentos para aplicações diretas e na Bolsa”, disse.