Economia

Bancos veem maior demanda por crédito agrícola diante de tabela de frete

Tabelamento de fretes vem gerando críticas e sendo contestado judicialmente pelo setor produtivo, que reclama de maiores gastos para produção e escoamento

Agricultura: segundo Anac, Brasil gasta agora 80 dólares por tonelada a mais que os EUA para escoar uma tonelada de soja ou milho, de 60 dólares antes da imposição da tabela (Mario Tama/Getty Images)

Agricultura: segundo Anac, Brasil gasta agora 80 dólares por tonelada a mais que os EUA para escoar uma tonelada de soja ou milho, de 60 dólares antes da imposição da tabela (Mario Tama/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 6 de agosto de 2018 às 16h41.

São Paulo - Agricultores brasileiros devem elevar a procura por crédito e outros instrumentos financeiros em bancos na safra 2018/19, iniciada em julho, dada a ausência de referência para comercialização futura de safras em meio a incertezas quanto ao tabelamento de fretes, além de custos de produção mais altos.

O tabelamento de fretes no Brasil vem gerando críticas e sendo contestado judicialmente pelo setor produtivo, que reclama de maiores gastos para produção e escoamento.

Os preços mínimos, instituídos por medida provisória aprovada pelo Congresso Nacional após as paralisações dos caminhoneiros de maio, afetam negociações futuras, uma vez que o frete é componente importante para fechar negócios antecipados com as tradings.

Isso em momento em que há dúvidas sobre como vai se posicionar o Supremo Tribunal Federal sobre ações pedindo a inconstitucionalidade da lei.

"A tabela de fretes afeta o agronegócio como um todo", destacou Tarcísio Hübner, vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, maior instituição de crédito agrícola do país, com oferta de 103 bilhões de reais para financiamento rural em 2018/19.

Segundo Hübner, o Banco do Brasil, e o sistema financeiro como um todo, dispõe de recursos suficientes para atender à demanda que "advir da ausência de negociação futura", reflexo de produtores evitando fechar negócios antecipadamente em meio às indefinições sobre os custos para transportar as colheitas.

Sem detalhar, ele também disse que a instituição está pronta para ajudar o produtor em operações de "barter", como são conhecidas as trocas de grãos por insumos agrícolas, um modo de o agricultor financiar seus custos.

Já o diretor de Agronegócios do Santander Brasil, Carlos Aguiar, comentou que o tabelamento de fretes "atrapalha o escoamento da produção".

Conforme ele, o banco, o maior estrangeiro com atuação no Brasil, já está alongando prazos de dívidas de agricultores "até que a situação se normalize". "E acredito que os produtores vão procurar mais os bancos para hedge", acrescentou.

Recorrer a bancos também pode ser necessário para conseguir recursos para compras de caminhões, uma vez que há produtores que começam a investir em frotas próprias diante de fretes mais caros, disse o superintendente de Agronegócios do Bradesco, Rui Pereira Rosa.

"O produtor estava com um planejamento de investimento e agora vai ter que investir em algo que não estava planejado, no caso, caminhão. Os produtores estão procurando comprar seus próprios caminhões", disse.

Mais cedo, ele já havia comentado que a disponibilidade de crédito pelo Bradesco em 2018/19 deve aumentar 6 por cento.

As declarações dos representantes foram dadas durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e pela bolsa paulista B3, em São Paulo.

Impactos

Segundo o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, o Brasil gasta agora 80 dólares por tonelada a mais que os Estados Unidos para escoar uma tonelada de soja ou milho, de 60 dólares antes da imposição da tabela.

Brasil e EUA são os maiores exportadores globais de grãos, mas os norte-americanos levam vantagem em custos para embarques graças a uma infraestrutura logística eficiente, envolvendo modais mais baratos, como ferrovias e hidrovias, ao passo que os sul-americanos ainda dependem fortemente de rodovias.

"O ponto central do nosso setor, no Brasil, é a logística. É onde as empresas conseguem ganhar algum dinheiro... Com a tabela de fretes, isso acaba com a rentabilidade das companhias", disse Mendes.

Outro setor que sente os efeitos da tabela de fretes é o de carnes suína e de frango, cuja indústria deve lidar com custos maiores até o fim do ano, afirmou o vice-presidente de Mercado da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.

Para o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, a logística começa a se normalizar em relação às entregas de fertilizantes, com agricultores e indústrias assumindo custos maiores às vésperas do plantio da safra 2018/19.

"As entregas se regularizaram, mas não tiram o atraso que observamos... Podemos ter entregas (mensais) recordes em julho, agosto e setembro. O limite (de entregas) no passado foi de 4,5 milhões de toneladas (por mês). Talvez alcancemos ou superemos isso", avaliou Pessôa no intervalo do evento.

A Anda, associação que representa o setor de fertilizantes, ainda não divulgou dados de julho.

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