Nicos Anastasiades: presidente cipriota afirmou na noite de segunda-feira que o plano de resgate é "doloroso", mas essencial. (Yiannis Kourtoglou/AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de março de 2013 às 21h42.
Nicósia - O presidente do maior banco comercial do Chipre ofereceu sua renúncia e milhares de estudantes protestaram na capital uma vez que os bancos permaneceram fechados para evitar saques em massa depois que a ilha fechou um acordo de resgate para evitar a falência.
Os bancos receberam ordens para continuar fechados até quinta-feira, e mesmo depois desse período irão impor controles de capital para evitar que os correntistas retirem todos os seus fundos.
Uma testemunha da Reuters estimou que até 3 mil estudantes protestaram do lado de fora do Parlamento, a primeira manifestação real de irritação popular após o Chipre ter fechado acordo para um resgate de 10 bilhões de euros com a União Europeia. Embora o acordo tenha evita um colapso do seu sistema bancário, também pode afetar o país com anos de austeridade.
O presidente do Banco do Chipre, Andreas Artemis, ofereceu a renúncia nesta terça-feira, de acordo com uma fonte do banco.
"Ele mandou uma carta de renúncia esta manhã que será examinada pelo Conselho de Diretores a se reunir nesta tarde", disse a fonte do banco, que pediu anonimato.
Após retornar de negociações de última hora em Bruxelas, o presidente cipriota, Nicos Anastasiades, afirmou na noite de segunda-feira que o plano de resgate é "doloroso", mas essencial.
Ele concordou em fechar o segundo maior banco do país, o Popular do Chipre, e impor fortes perdas a grandes depositantes, muitos dos quais russos, depois que o grande setor financeiro do Chipre complicou-se devido à falta de rendimento dos investimentos na vizinha Grécia.
Líderes europeus disseram que uma bancarrota nacional caótica que poderia ter forçado o Chipre a deixar a zona do euro e prejudicado a economia europeia foi evitada. Investidores em outros bancos europeus estão alarmados pelo precedente de fazer com que depositantes sofram perdas.
"O acordo que alcançamos é difícil mas, nas atuais circunstâncias, é o melhor que podemos ter", disse Anastasiades em depoimento ao país em rede nacional na noite de segunda-feira.
Muitos cipriotas, no entanto, disseram não estar nada tranquilizados com o acordo, e a previsão é de que corram aos bancos assim que eles reabrirem, após mais de uma semana fechados.
Revertendo uma decisão anterior de reabrir ao menos alguns bancos nesta terça-feira, o banco central afirmou no final de segunda-feira que eles agora permanecerão fechados até quinta-feira para garantir "o funcionamento tranquilo de todo o sistema bancário".
MEDIDA TEMPORÁRIA Pouco se sabe sobre as restrições às transações que Anastasiades disse que o Banco Central vai impor, mas ele disse à população que será "uma medida muito temporária, a ser gradualmente relaxada".
O ministro das Finanças, Michael Sarris, afirmou que os controles de capitais provavelmente irão durar "uma questão de semanas".
Os controles de capitais contrariam os ideais de mercado comum da União Europeia, mas o governo quer evitar uma maré de pânico que causaria ainda mais problemas à economia.
O Banco Central adotou um limite de 100 euros para os saques diários nos caixas eletrônicos dos dois maiores bancos nacionais.
Sem um acordo até o final da segunda-feira, o Chipre corria o risco de se tornar o primeiro país a deixar a união monetária europeia --um destino que a Alemanha e outros credores ao norte pareciam dispostos a infligir a uma nação que responde por uma ínfima parcela da economia do euro, e cujos bancos teriam ido além das suas capacidades.
O plano irá levar ao fechamento do estatal Banco Popular do Chipre, conhecido como Laiki, com a transferência de depósitos inferiores a 100 mil euros para o Banco do Chipre, a fim de criar um "banco bom", deixando, na prática, os problemas com um "banco podre".
Os depósitos superiores a 100 mil euros, em ambos os bancos, que não estão garantidos pelo Estado conforme prevê a lei da UE, serão congelados. O valor será usado para sanar as dívidas do Laiki e recapitalizar o Banco do Chipre, o maior da ilha, por meio de uma conversão depósitos/títulos.
A ofensiva sobre os depósitos não-garantidos do Laiki deve levantar 4,2 bilhões de euros, de um total de 5,8 bilhões que a UE e o FMI exigiram do Chipre como contribuição para o resgate, segundo o ministro holandês das Finanças, Jeroen Dijsselbloem.
Na segunda-feira, os comentários de Dijsselbloem, também presidente do Eurogroup, de que o resgate do Chipre pode servir como um modelo para crises em outros locais levou os mercados a entenderem a mensagem como um sinal de que contribuições do setor privado devem ter um papel maior em futuros resgates.
Embora ele tenha voltado atrás nas declarações, membros do Banco Central Europeu (BCE) insistiram que o Chipre é um caso especial.