Juros: bancos centrais do Japão e Europa vão na contramão das tendências econômicas ao adotarem juros negativos (Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 19 de fevereiro de 2016 às 20h13.
Haruhiko Kuroda e Mario Draghi podem estar entre os poucos economistas que ainda acham que as taxas de juros negativas são uma boa ideia.
A decisão do presidente do Banco do Japão (BOJ) no mês passado de cobrar dos bancos por algumas reservas excedentes, um ano e meio depois de seu colega no Banco Central Europeu ter tomado um caminho similar, implica que um quarto da economia mundial agora está no clube dos juros negativos.
Contudo, só 27 por cento dos consultados em uma pesquisa da Bloomberg dizem que as taxas negativas ajudarão Kuroda a atingir a meta de impulsionar uma inflação fraca e apenas 42 por cento dizem que a política está tendo sucesso na zona do euro.
Embora a estratégia tenha mostrado que pode enfraquecer moedas – um canal para incentivar os preços ao consumidor – a discussão sobre quanto tempo isso pode durar e a probabilidade de ocorrência de consequências não desejadas está soando mais alto.
“Como cada vez mais bancos centrais estão aplicando taxas negativas, esse instrumento está se tornando menos efetivo”, disse Kristian Tödtmann, economista sênior do DekaBank em Frankfurt.
“Todas essas moedas não podem se desvalorizar ao mesmo tempo. O resultado poderia ser um uso excessivo de juros negativos com efeitos colaterais daninhos”.
O que começou em 2012 como consequência da luta da Dinamarca para defender sua ligação cambial ao euro agora se tornou um pilar da política dominante, cogitado até mesmo pelo Federal Reserve dos EUA.
A pesquisa com 63 economistas mostra que embora alguns digam que as taxas negativas ajudaram a evitar depressões ainda piores, na verdade a estratégia é adequada só para economias pequenas que estejam se protegendo contra fluxos de capital especulativo.
Na zona do euro, os swaps de índices overnight indicam que os investidores preveem que a taxa de depósitos, atualmente de -0,3 por cento, cairá mais 20 pontos-base até meados do ano. Draghi indicou que o próximo passo poderia ser dado ainda em março.
No Japão, Kuroda disse ao Congresso nesta sexta-feira que as taxas negativas ajudarão a impulsionar a economia estimulando investimentos em capital e moradia.
O Riksbank da Suécia disse na semana passada que pode reduzir mais as taxas, porém os economistas na pesquisa disseram que a instituição provavelmente chegou ao fundo.
A inflação na zona do euro foi de 0,4 por cento em janeiro e o BCE diz que poderia se tornar negativa nos próximos meses.
Os preços ao consumidor no Japão provavelmente estagnaram no mês passado.
A taxa da Suécia era de 0,8 por cento. Os bancos centrais de todas essas economias têm metas de inflação de por volta de 2 por cento.
A defesa padrão dos banqueiros centrais às críticas ao estímulo aparentemente inerte é a contrafática – tudo teria sido ainda pior sem ele. É um sentimento refletido por alguns participantes da pesquisa.
A política do BCE “evitou um declínio maior da inflação e ajudou a reduzir as taxas de crédito para a economia”, disse Philippe Gudin, economista-chefe do Barclays para a Europa.
No que tange a impulsionar realmente a inflação, para não falar em salários e no crescimento econômico, os juros negativos não podem fazer muito e distorcem os mercados cambiais, segundo Elwin de Groot, economista do Rabobank em Utrecht, Holanda.
Em um sinal de que os traders de moedas começaram a rejeitar os esforços de flexibilização do BCE e do BOJ, o euro e o iene têm subido frente ao dólar neste ano.
“As autoridades monetárias baixaram as taxas de juros para zero ou mais baixo em alguns casos e injetaram trilhões de dólares de estímulo nos mercados, porém a inflação e os yields dos bonds têm se recusado teimosamente a subir”, disse Alan McQuaid, economista-chefe da Merrion Capital Group em Dublin.
“A verdade é que as taxas de juros negativas não são a resposta aos problemas econômicos do mundo e os banqueiros centrais precisam repensar seriamente – e sem demora”.