De acordo com professor do Ibmec, redução da Selic precisa ser compensada por esforço fiscal do governo (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 1 de setembro de 2011 às 08h11.
São Paulo – Quem esteve na cidade de São Paulo ontem ficou surpreso com a variação brusca de temperatura: uma manhã quente, assim como boa parte do dia, mas um fim de tarde relembrando que o inverno ainda não acabou. Para o economista Alcides Leite, da Trevisan Escola de negócios, tão instável quanto o clima na cidade na terça-feira é o comportamento do Banco Central (BC), que reduziu a taxa Selic em 0,5 ponto percentual.
Nas cinco reuniões anteriores do Comitê de Política Monetária (Copom) a decisão havia sido de aumentar os juros. Por isso, o esperado pelo economista, e por outros especialistas do mercado, era a manutenção da taxa, ou uma redução mais branda, de 0,25 ponto percentual.
“Fiquei perplexo, e acho que o mercado também vai ficar. Esta mudança foi repentina e intensa, como a mudança do tempo em São Paulo ontem. Isto pode trazer certa insegurança”, diz o professor. Para ele, o esperado era que a autoridade monetária mantivesse os juros em 12,5% ao ano, já que as expectativas de inflação continuam em alta.
A justificativa que o BC deu para sua decisão foi a preocupação com o cenário econômico externo. Segundo a equipe do Copom, os problemas fiscais que ameaçam os países europeus pode prejudicar a economia brasileira. Assim, juros altos poderiam sufocar o crescimento brasileiro.
Entretanto, para o professor da Trevisan, o cenário externo atual não justifica a redução dos juros. “Acho que não é como em 2008 e 2009. Naquela época o BC errou, de fato, ao continuar aumentando os juros depois da crise. Mas acredito que agora o cenário não chega àquele nível. Além disso, o setor externo não pressiona tanto na nossa inflação”, explica.
Credibilidade
Para o professor Claudio Shikida, coordenador do Núcleo de Estudos de Política Monetária do Ibmec de Minas Gerais, a decisão põe em dúvida a credibilidade do BC. “A inflação já está fora da meta e tanto governo quanto mercado sabem que não vai voltar neste ano. O BC já deixou claro que a preocupação com a meta vai ficar para o ano que vem, e isto me preocupa. A imagem (do banco) está arranhada”, afirma.
Shikida considerou a decisão “arrojada”, já que todos os sinais dados pelo BC anteriormente eram de aperto monetário, sobretudo com as medidas macroprudenciais. “Agora o governo precisa ser tão arrojado na política fiscal quanto na monetária. Ele vai ter que cumprir os cortes de gastos prometidos e isto não é algo simples de se fazer. Só assim o crescimento não vai perder vigor e a inflação vai ficar sob controle.”