Economia

Bancos que operam na Argentina precisarão de aval para distribuir lucro

A partir de agora, bancos interncionais que operam no país não poderão enviar remessas para suas sedes

Argentina: país pediu moratória de sua dívida esta semana. (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

Argentina: país pediu moratória de sua dívida esta semana. (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de agosto de 2019 às 10h26.

Última atualização em 31 de agosto de 2019 às 10h38.

São Paulo - Diante da nova corrida por dólar, o Banco Central da Argentina anunciou, na tarde de ontem, que, a partir de agora, bancos que operam no país terão de pedir autorização para distribuir seus resultados. A medida inviabiliza a remessa de lucros de bancos internacionais para suas sedes.

Em comunicado, a autoridade monetária afirmou que "entidades financeiras deverão ter autorização prévia do Banco Central da República Argentina (BCRA) para a distribuição de resultados". A medida, adotada para garantir liquidez no mercado interno, não alcança pessoas físicas.

A procura por dólares no país se intensificou nesta semana, após o governo de Mauricio Macri anunciar que não pagará a maior parte de sua dívida de curto prazo na data de vencimento, adiando uma parcela para daqui a seis meses. Isso significa que a conta poderá ficar nas mãos de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, que formam a chapa da oposição e saíram vencedores nas eleições primárias, em 11 de agosto.

Ontem, o BCRA leiloou mais de US$ 387 milhões de suas reservas internacionais na tentativa de segurar a desvalorização do peso. Se mantiver esse ritmo, as reservas do país se esgotarão em menos de dois meses, ou antes das eleições presidenciais, marcadas para 27 de outubro. Apesar de afirmar possuir US$ 57 bilhões em reservas, pouco menos de US$ 13 bilhões são líquidos.

Os esforços da autoridade monetária ontem, porém, não foram suficientes. O dólar fechou o dia cotado a 59,5 pesos, com alta de 2,8%, após o candidato à presidência Alberto Fernández afirmar ao Wall Street Journal que o Fundo Monetário Internacional (FMI) é responsável pela crise atual. O governo Macri fechou no ano passado um empréstimo de US$ 56 bilhões, o maior já concedido pelo órgão, e agora procura renegociar o pagamento das parcelas, que começam a vencer em 2023. Fernández já afirmou que, se eleito, também renegociará essa dívida.

Ainda ontem, a agência de classificação de risco Moody's rebaixou a nota da dívida da Argentina de B2 para Caa2 e informou que alterou a perspectiva de rating do país de negativa para "em observação para eventual rebaixamento". A Fitch, por sua vez, rebaixou a nota para "default restrito" e afirmou, em nota, que a vitória nas eleições primárias da chapa de Fernández e Cristina (tidos como mais intervencionistas e avessos ao mercado) indica um aumento no risco de descontinuidade das políticas e provoca forte depreciação da moeda.

A também agência classificadora de risco S&P, por outro lado, elevou a nota do país. Na noite de quinta-feira, ela havia rebaixado o rating para "default seletivo" e, ontem, após o governo Macri divulgar as novas datas de pagamento da dívida de curto prazo, elevou a nota ao patamar anterior.

Independentemente das avaliações das agências, parte do mercado já considera que o país está em default. Desde o resultado das eleições primárias, papéis do governo que valem US$ 1 e têm vencimento em 2023 são negociados por cerca de US$ 0,40. Números inferiores a 50% do valor de face de um título apontam para a necessidade de reestruturação da dívida.

O Credit Default Swap (CDS) da Argentina de cinco anos, espécie de termômetro do risco país, encostou em 4.200 pontos - o do Brasil operou em queda ontem a 132 pontos. Antes das primárias, o CDS argentino era negociado em 900 pontos. O atual patamar argentino indica que os investidores estão considerando que a possibilidade de calote do país é superior a 85%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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