Economia

"Leniência regulatória" contribuiu para crise, diz Awazu

Contudo, Awazu destacou que, no país, a atuação do BC na supervisão e aplicação de normas não permitiu que isso acontecesse.


	Luiz Awazu Pereira da Silva ressaltou que há uma atuação permanente do BC para a evolução do sistema financeiro nacional
 (Antonio Cruz/AGÊNCIA BRASIL)

Luiz Awazu Pereira da Silva ressaltou que há uma atuação permanente do BC para a evolução do sistema financeiro nacional (Antonio Cruz/AGÊNCIA BRASIL)

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Da Redação

Publicado em 8 de maio de 2013 às 15h32.

Maceió - O diretor de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central (BC), Luiz Awazu Pereira da Silva, afirmou nesta quarta-feira que a "leniência regulatória" foi um fator importante de contribuição para o surgimento da crise financeira internacional a partir de 2007-2008.

Contudo, Awazu destacou que, no país, a atuação do BC na supervisão e aplicação de normas não permitiu que isso acontecesse.

"Preservamos no Brasil ambiente regulatório robusto e conservador", afirmou.

Ele ressaltou que há uma atuação permanente do BC para a evolução do sistema financeiro nacional. "O presidente (Alexandre) Tombini sempre tem enfatizado que supervisão e regulação são processos contínuos", destacou.

Contudo, Awazu afirmou que essa atuação do banco tem o cuidado de evitar que excessos sejam cometidos. "Regulação deve evitar excesso, que pode causar prejuízos ao funcionamento do mercado", afirmou.

O diretor de Regulação do Sistema Financeiro do BC fez o pronunciamento em encontro em Maceió promovido pelo Ministério Público Federal (MPF).

Qualidade de informações

Awazu também afirmou que os mercados de crédito não têm as mesmas características dos de bens, pois "dependem da informação que o tomador tem à disposição". Nesse contexto, o diretor de Regulação do Sistema Financeiro do banco disse que é importante entender a "qualidade e a transparência" desses dados, pois isso colabora para que consumidores adotem decisões mais "eficientes" para ter acesso a financiamentos.

De acordo com Awazu, o tema é tão relevante que, além de ser tratado por acadêmicos - a importância foi reconhecida na concessão do Prêmio Nobel de Economia para o economista Joseph Stiglitz com as pesquisas sobre assimetria de informações -, atualmente é analisado com grande atenção por instituições internacionais. "A melhora da opacidade de informações está sendo trabalhada pelo G-20 e pelo Financial Stability Board", disse.


Instituições financeiras

O diretor de Regulação do Sistema Financeiro disse que a autoridade monetária supervisiona 19 tipos de instituições financeiras, desde bancos comerciais e múltiplos até cooperativas de crédito e sociedades de crédito ao microempreendedor. "Conforme informações do relatório anual de evolução do SFN (Sistema Financeiro Nacional), divulgado pelo Banco Central, em dezembro de 2012, existiam 2.088 instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central. Somente cooperativas de crédito, são cerca de 1.250", declarou.

Segundo Awazu, há cerca de cem milhões de clientes titulares de contas de depósitos à vista no País e perto de 110 milhões de usuários de caderneta de poupança. O diretor de Regulação do Sistema Financeiro prosseguiu afirmando que existe um número próximo de 53 milhões de brasileiros que têm operações de empréstimo ativas - quase 51 milhões deste total são pessoas físicas. "Com relação à utilização pela população de instrumentos de pagamento, existem, aproximadamente, 85 milhões de cartões de crédito ativos", acentuou. "A quantidade de transações mensais é de praticamente 900 milhões. Com relação aos cheques, foram compensados no ano de 2012 aproximadamente 915 milhões, sendo que, só em fevereiro de 2013, foram compensados 65 milhões de cheques."

Crédito

Awazu acrescentou que o crescimento do crédito no Brasil foi "intenso e sustentável" nos últimos anos. O diretor de Regulação lembrou que o saldo das operações de crédito do sistema financeiro atingiu o total de R$ 2,4 trilhões em março, o que representou um aumento de 16,7% em 12 meses. Conforme Awazu, números indicam que o crédito total representa 53,9% do Produto Interno Bruto (PIB).

O diretor lembrou dados divulgados na nota "Política Monetária e Crédito", divulgada no fim de abril, de acordo com os quais os financiamentos de imóveis alcançaram o saldo total de R$ 318 bilhões em março, o que significou 7,1% do PIB e 13,1% da soma do crédito. Segundo Awazu, as operações contratadas com pessoas físicas alcançaram R$ 274 bilhões - R$ 246 bilhões com taxas reguladas no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e R$ 28 bilhões em financiamentos contratados a taxas livres.


Conforme o diretor, as operações de crédito consignado com pessoas físicas exibiram um saldo de R$ 199 bilhões em março, o que significou 8,2% do total dos empréstimos. As operações com cartões de crédito atingiram o total de R$ 128 bilhões em fevereiro de e responderam por 5,3% da soma de crédito - R$ 122 bilhões com pessoas físicas e R$ 6 bilhões com jurídicas.

Brasil

Awazu apontou que a melhoria das condições de crédito no Brasil favorecem a inserção de famílias ao consumo. Na análise dele, esse contexto de ascensão social e de elevação dos rendimentos das famílias que aconteceu na última década foi baseado em vários fatores, sobretudo na redução do desemprego, aumento da formalização do mercado de trabalho, ascensão dos programas de transferência de renda e avanço da escolaridade.

"Aqui está o grande desafio, o de promover a inserção dessas novas famílias no mercado financeiro, de forma equilibrada, sustentável, sem riscos, com atenção à questão da contenção do endividamento e do oferecimento e contratação de produtos e serviços adequados ao perfil dos clientes", acredita.

"Nesse sentido, destaco ainda o processo de estímulo à educação financeira da população, em especial da população de baixa renda, de forma a propiciar melhores condições para estruturar o planejamento financeiro de médio e longo prazos, e assim promover a adequada inclusão financeira da população brasileira", analisou. Awazu apregoou que o BC criou uma área específica para cuidar do fortalecimento nos processos de educação financeira no País, com a Diretoria de Relacionamento Institucional e Cidadania (Direc), cujo titular é o matemático Luiz Edson Feltrin.

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