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João Pedro Caleiro
Publicado em 21 de setembro de 2013 às 08h00.
São Paulo - O avanço tecnológico sempre gerou ansiedade e lamentos de que o trabalho humano seria eventualmente substituído por máquinas inteligentes. Por enquanto, estas previsões se mostraram equivocadas, mas um novo estudo divulgado esta semana traz novos dados para o debate.
Os pesquisadores Carl Benedikt Fre e Michael A. Osborne, da Universidade de Oxford, usaram descrições detalhadas e padronizadas de 702 tipos de ocupações para criar um modelo estatístico que mostra quais são mais ou menos vulneráveis à substituição por computadores.
A conclusão: 47% dos postos de trabalho nos Estados Unidos estão sob "alto risco" de desaparecer nos próximos dez a vinte anos. 33% tem risco baixo e 19% tem risco médio.
O motivo para isso é que a tecnologia está avançando pela primeira vez sobre campos antes considerados exclusivos do trabalho humano: as chamadas tarefas "cognitivas" ou "não-rotineiras".
Há pouco tempo atrás, por exemplo, dirigir um carro por uma cidade era algo considerado complexo demais para ser entendido por um computador. No começo de 2012, o Google anunciou o sucesso de seus testes com carros que não precisam de motoristas.
Três eixos são levados em conta para avaliar a probabilidade de que uma função seja substituída: "necessidade de inteligência social", "criatividade" e "percepção e manipulação". A probabilidade de ser trocado por um computador inteligente é grande para um escrivão e baixa para um profissional de relações públicas, por exemplo.
O estudo também leva em conta que o desenvolvimento da tecnologia tornará possível terceirizar cada vez mais funções para trabalhadores em outros países do mundo.
Carl e Michael dizem que o estudo foi inspirado pela famosa previsão do economista John Maynard Keynes que o desenvolvimento tecnológico traria desemprego porque "nossas formas de economizar no uso do trabalho crescem de forma mais rápida do que a velocidade na qual conseguimos inventar novos usos para ele".
O nível de emprego demorou para retornar a níveis normais depois das últimas recessões americanas, e o fenômeno se repetiu no pós-crise de 2008. Muitos pesquisadores afirmam que o avanço tecnológico é um dos fatores responsáveis pela chamada "recuperação sem empregos" e pela desigualdade crescente das últimas décadas.
Os autores lembram que a noção de que a tecnologia causa desemprego é antiga e recorrente desde a revolução industrial, mas se provou errada, pelo menos até agora. Os avanços na automatização afetam negativamente grupos e indústrias específicas, mas também geram aumento de produtividade e efeitos benéficos sobre toda a cadeia produtiva.
Talvez seja até possível prever quais tipos de emprego vão desaparecer em um futuro próximo, mas ainda não inventaram uma forma de adivinhar as novas ocupações que ainda estão para surgir.