Economia

Austeridade não leva a crescimento econômico, diz Unctad

O documento indica que os países em desenvolvimento ficam vulneráveis, já que os cortes fiscais nos países mais ricos prejudicam a recuperação


	Euros em frente à bandeira grega: os déficits fiscais são o resultado e não a causa da crise, diz o documento
 (©AFP / Philippe Huguen)

Euros em frente à bandeira grega: os déficits fiscais são o resultado e não a causa da crise, diz o documento (©AFP / Philippe Huguen)

DR

Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2012 às 16h27.

Rio de Janeiro - As medidas de austeridade e o achatamento dos salários enfraquecem o crescimento dos países desenvolvidos e não estimulam a economia como o esperado, sem criação de empregos, redução nos déficits fiscais ou aumento da confiança dos mercados financeiros.

É o que aponta o Relatório de Comércio e Desenvolvimento 2012 - Políticas para o Crescimento Inclusivo e Equilibrado, divulgado hoje (12) pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). O documento indica que os países em desenvolvimento ficam vulneráveis, já que os cortes fiscais nos países mais ricos prejudicam a recuperação.

Nos últimos dois anos, a Unctad emitiu avisos sobre o risco de trocar prematuramente as medidas de estímulo econômico por cortes no orçamento, o que leva ao enfraquecimento do mercado interno e pessimismo dos empresários.

O relatório aponta que a desaceleração ocorre em todas as regiões do mundo. Apesar de países em desenvolvimento aplicarem políticas para apoiar as demandas internas, as medidas não são suficientes para atingir as economias avançadas. O crescimento global ficou em 2,7% em 2011, ante 4,1% em 2010. Para 2012, a expectativa da Unctad é de crescimento global de 2,5% e de apenas 1% entre os países desenvolvidos. As economias em desenvolvimento podem chegar a 5%.

Segundo a Unctad, o relatório de 2010 já advertia que a recuperação econômica deveria ocorrer com o aumento da demanda interna, e não com a redução da dívida do governo. O relatório deste ano confirma os temores e acrescenta que a recessão nos países desenvolvidos dificulta a recuperação global. Além disso, aponta um erro no diagnóstico, já que os déficits fiscais são o resultado e não a causa da crise, diz o documento.

Como solução, a Unctad aponta a restauração do crescimento e das receitas fiscais que, a longo prazo, vão resolver o problema do aumento da dívida pública. Também são necessárias medidas macroeconômicas, além de reformas estruturais, para reforçar a segurança social e o apoio econômico do Estado, como vem ocorrendo em países em desenvolvimento.


De acordo com o relatório, 74% da produção global, entre 2006 e 2012, ocorreu nos países em desenvolvimento, enquanto essa proporção, nos anos 1980 e 1990, era de 75% nos países desenvolvidos.

Segundo a Unctad, reduzir a desigualdade na renda leva a benefícios sociais e a um maior crescimento econômico, tendência observada nos últimos 30 anos em países desenvolvidos e em desenvolvimento. O relatório aponta também que um dos fatores que levou à crise foi a grande concentração de renda nas mãos de poucos e o endividamento das massas assalariadas para manter o padrão de vida, reduzindo o consumo das classes mais baixas.

O documento destaca que a eficiência econômica não é incompatível com a redução da desigualdade. A Unctad recomenda que os governos adotem medidas que preservem o emprego e melhorem a distribuição de renda entre os trabalhadores, como a tributação progressiva e o aumento dos gastos públicos, ao contrário do que vem sendo adotado, de minimizar a intervenção do Estado e flexibilizar a proteção ao trabalho.

A Unctad aponta que os governos devem se apropriar de uma parte das rendas provenientes das commodities, para que os recursos do país beneficiem toda a população, e não apenas os atores nacionais e internacionais envolvidos.

Quanto à flexibilização da proteção ao trabalho, o relatório indica que as medidas reduziram o emprego ao invés de aumentar, já que o crescimento da produtividade global sem o aumento proporcional dos salários não leva ao aumento da demanda e do consumo.

Acompanhe tudo sobre:Crescimento econômicoCrise econômicaDesenvolvimento econômicoOrçamento federal

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto