Japão: mais de 75% dos trabalhadores de meio período são mulheres, e trabalhadores de meio período casados podem receber benefícios (Chris McGrath/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2016 às 18h11.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2017 às 17h24.
Tóquio - Durante os últimos dez anos, os 14 milhões de trabalhadores de meio período do Japão reduziram sua carga horária em mais de 6 por cento. Agora, eles trabalham cerca de 4,5 horas por dia.
Isso abala o país, que lida com o declínio da população, e o governo, que busca aumentar o salário líquido das pessoas e estimular que mais mulheres participem da força de trabalho.
Ironicamente, a campanha do governo para elevar os salários pode estar forçando muita gente a trabalhar menos.
Mais de 75 por cento dos trabalhadores de meio período são mulheres, e trabalhadores de meio período casados podem receber benefícios em impostos, bem-estar social e aposentadoria caso seu salário anual fique abaixo de determinados limites.
Quando um aumento na remuneração por hora gera o risco de que as pessoas ultrapassem esse limite, a resposta lógica é reduzir a carga horária.
O mais famoso desses benefícios é conhecido como “muro de 1,03 milhão de ienes” -- um casal perde incentivos fiscais se a renda do cônjuge que ganha menos superar US$ 9.100 por ano.
O efeito disso pode ser visto na renda das mulheres casadas, que gira em torno desse patamar de 1 milhão de ienes, de acordo com um relatório de Yasuo Shirahase, do NLI Research Institute.
Além disso, muitas companhias oferecem benefícios familiares, e o limite para a maioria deles também é definido no mesmo patamar.
Então, se um cônjuge ganha 1,04 milhão de ienes em um ano, além de perder milhares de dólares em deduções fiscais, o casal também pode perder mais na remuneração.
Os trabalhadores de tempo integral não têm os mesmos desincentivos para manter o salário baixo e vêm aumentando a quantidade que trabalham.
O governo provavelmente vai propor elevar o limite de 1,03 milhão de ienes para 1,05 milhão de ienes, informou o jornal Nikkei nesta semana.
Havia um plano para eliminar completamente isso, mas ele foi abandonado devido à preocupação de que as donas de casa iriam se opor, segundo o Nikkei.
Também existem outros “muros”. É obrigatório contribuir para a aposentadoria e o bem-estar social quando o salário de um cônjuge supera 1,06 milhão de ienes ou 1,3 milhão de ienes, dependendo do tamanho da empresa e de outras condições.
Mesmo que o limite de isenção fiscal seja suspenso, trabalhadores de meio período não darão um impulso muito grande à oferta de mão de obra, porque continuarão tendo que pagar os custos de bem-estar social se sua renda superar esses patamares, de acordo com um relatório de Mikihiro Matsuoka e Kentaro Koyama, economistas do Deutsche Bank.
É provável que o nível de renda de 1,06 milhão de ienes passe a ser visto como o novo “muro” para as mulheres que trabalham meio período, de acordo com Shirahase, do NLI, que escreveu que o sistema atua como um obstáculo para a participação feminina no ambiente de trabalho e é um freio para o crescimento econômico.