Economia

Crédito subsidiado pelo BNDES atrapalha BC a deter inflação

O crescimento de empréstimos do banco de desenvolvimento está minando os esforços do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para baixar a inflação


	Alexandre Tombini: o crescimento de empréstimos do BNDES está sendo encorajado por taxas que são três pontos percentuais mais baixas do que a Selic de 8 por cento definida pelo BC
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

Alexandre Tombini: o crescimento de empréstimos do BNDES está sendo encorajado por taxas que são três pontos percentuais mais baixas do que a Selic de 8 por cento definida pelo BC (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 5 de julho de 2013 às 11h27.

São Paulo - O ritmo acelerado dos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil a taxas subsidiadas está minando os esforços do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para baixar a inflação de uma alta de 19 meses.

Os desembolsos de empréstimos do BNDES cresceram quase cinco vezes mais rápido do que os empréstimos de todo o sistema financeiro brasileiro nos primeiros quatro meses do ano.

O crescimento de empréstimos do BNDES está sendo encorajado por taxas que são três pontos percentuais mais baixas do que a taxa Selic de 8 por cento definida pelo Banco Central do Brasil no dia 29 de maio.

A diferença entre os juros do BNDES e a Selic está no maior patamar em um ano e irá aumentar na próxima semana, quando o Copom deve elevar a taxa básica em 0,50 ponto percentual, segundo analistas consultados pela Bloomberg.

O crédito subsidiado tira a potência da política monetária, porque o BNDES está inundando o mercado com dinheiro barato, diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil.

Os desembolsos do BNDES aumentaram 59 por cento para R$ 54,4 bilhões (US$ 24,2 bilhões) entre janeiro e abril de 2013, na comparação anual, disse o banco em um comunicado do dia 6 de junho. Foi uma alta quase cinco vezes maior do que o crescimento de 11,9 por cento no crédito total do País no mesmo período, para R$ 297 bilhões. Onda de empréstimos

A onda de empréstimos do BNDES seguiu uma decisão de dezembro do governo de reduzir a taxa de empréstimos do banco em 50 pontos-base, ou 0,5 ponto porcentual, para uma baixa recorde de 5 por cento para estimular a economia.


A decisão veio no final do segundo pior ano de crescimento do PIB em mais de uma década. Na semana passada, o governo optou por manter a taxa de 5 por cento pelo menos até 30 de setembro.

O BNDES disse em nota por e-mail que está ajudando a reduzir a pressão inflacionária ao financiar projetos que vão aumentar a oferta de produtos.

O Banco Central, comandado por Tombini, vem elevando a Selic desde abril para controlar a inflação. O Banco Central irá aumentar a Selic em 50 pontos-base em 10 de julho para 8,50 por cento, após um aumento de 0,25 ponto porcentual em abril e 0,50 ponto porcentual em maio, de acordo com os 10 economistas consultados pela Bloomberg.

Analistas

Analistas que acompanham a economia brasileira preveem que os responsáveis pelas políticas econômicas vão elevar a Selic para 9,25 por cento neste ano e mantê-la nesse nível até o fim de 2014, de acordo com os resultados de uma pesquisa do Banco Central publicada em 1 de julho.

O Banco Central não quis fazer comentários sobre impacto da ação do BNDES na inflação.

Os preços ao consumidor medidos pelo índice IPCA-15 subiram 6,67 por cento até meados de junho, acima do teto, e esse é o maior patamar desde novembro de 2011.

John Welch, estrategista do Canadian Imperial Bank of Commerce em Toronto, disse que Tombini provavelmente terá de aumentar as taxas de juros para 9,75 por cento até o fim do ano e para 11 por cento no primeiro trimestre do próximo ano.

"Eles têm que aumentar mais a Selic e forçar o ajuste sobre uma parte menor do sistema financeiro", disse ele.

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