A possibilidade de um quarto aumento da taxa divide os mercados, mas muitos economistas esperam isso (Getty Images/Getty Images)
AFP
Publicado em 12 de junho de 2018 às 13h57.
O Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) se encaminha para subir pela segunda vez no ano as taxas de juros dos Estados Unidos nesta semana, para se antecipar à alta da inflação.
Uma explosão de contratações em maio derrubou o desemprego a níveis quase similares aos de quase 50 anos atrás, pouco antes de uma era de elevada inflação na maior economia do mundo.
Mesmo antes dos dados de maio - quando foram criados 223 mil postos líquidos e a taxa de desemprego foi de 3,8%, a menor em 18 anos -, membros do Fed já tinham sinalizado sua disposição para dar mais um passo em direção ao endurecimento da política monetária.
Com um desemprego tão baixo, as empresas aumentam os salários, seja para conseguir mão de obra, seja para evitar que seus trabalhadores vão para lugares que paguem melhor.
Tudo isso aponta para aumentar as taxas de juros do Fed, que incide nos créditos para veículos e todos os outros bens.
A decisão sobre os juros será tomada na reunião de dois dias do Comitê de Política Monetária do Fed (FOMC), que começa nesta terça-feira (12).
Nos mercados de futuros, estimava-se na sexta-feira em 90% a possibilidade de as taxas subirem um quarto de ponto, o que as deixaria em uma faixa de entre 1,75% e 2%.
"O Fed quer esfriar o crescimento do emprego para evitar uma taxa de desemprego ainda menor", disse à AFP John Ryding, economista da consultoria RDQ Economics.
Até o fim do ano, o desemprego poderia cair a 3,5% pela primeira vez desde 1969 e chegaria a 3% até o fim de 2019 - a menor taxa desde setembro de 1953, completou Ryding.
Os membros do Fed podem questionar essa descrição, porque estão focados em alcançar o pleno emprego e a estabilidade de preços.
No entanto, na prática, eles são muito cautelosos, já que as baixas taxas de desemprego tendem a elevar os salários e, consequentemente, os preços.
Os 3,5% do desemprego em dezembro de 1969 foram seguidos por um período muito sombrio para a economia dos Estados Unidos, que incluiu a "grande" inflação dos anos 1970. A inflação atingiu mais de 10% no meio do choque do petróleo da década de 1970, e o desemprego subiu para 9%.
Na economia atual, com o aumento dos preços do petróleo, cortes de impostos nos Estados Unidos, um dólar enfraquecido e um crescimento generalizado na economia mundial, há condições para um aumento dos preços. Tudo isso sem considerar a guerra comercial que está se formando.
O aumento das taxas de juros nesta semana, seguido de outro em setembro, é dado como certo nos mercados futuros.
A possibilidade de um quarto aumento da taxa divide os mercados, mas muitos economistas esperam isso.
Enquanto já deu sinais de que os juros vão subir na quarta-feira, o Fed também disse que sua meta de inflação de 2% é "simétrica". Com isso, quis dizer que não seria um grande problema, se a inflação excedesse um pouco essa meta, uma vez que compensaria um pouco a baixa de seis anos.
Ryding e outros economistas também dizem que a ligação entre desemprego e aumento de preços não é tão óbvia quanto parece.
"Espero que tenha algum impacto, mas acho que foi muito exagerado", disse Dean Baker, membro do Centro para o Instituto de Pesquisa Econômica e Política.
Embora a inflação tenha aumentado na esteira das taxas de desemprego extremamente baixas na década de 1960, quando ela aumentou, foi progressivamente, e não de repente.
E a vida dos trabalhadores é totalmente diferente daquela época. O colapso do sindicalismo, o menor poder de negociação salarial e o auge do deslocamento das fábricas industriais significam que a escassez de trabalhadores disponíveis não aumenta demais os salários.
As estimativas atuais dos aumentos salariais indicam aumentos modestos, pouco acima da inflação, de modo que não se espera que os preços acelerem.
O núcleo da inflação, que exclui valores voláteis como energia, ou alimentos, medido pelo índice PCE, permaneceu em 1,8% em abril, no mesmo nível de novembro de 2016.