A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde: no âmbito latino-americano, as dúvidas se concentram sobre o Brasil, que encadeará duas recessões consecutivas em 2015 e 2016 (-3% e -1%, respectivamente) (Mandel Ngan/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2015 às 12h48.
Lima - O longo atraso na confirmação da reforma do sistema de governo do FMI e as dúvidas sobre os riscos financeiros na economia global foram os principais temas de debate na conclusão do Comitê Monetário e Financeiro (IFMC, sigla em inglês) da instituição nesta sexta-feira.
"Espero que as autoridades dos Estados Unidos saibam reconhecer a necessidade de reformar uma instituição multilateral na qual participaram de maneira ativa desde sua criação e ao longo dos anos", argumentou Christine Lagarde, em entrevista coletiva após a plenária do IFMC, o principal órgão executivo do FMI, em Lima.
Lagarde ressaltou que a demora "é um problema para a representatividade e credibilidade da instituição, particularmente com os países com baixa representatividaderepresentados".
As reformas, que incluem dar maior peso dos mercados emergentes na estrutura do FMI e a dotação de financiamento adicional por parte dos países-membros, receberam um contundente apoio inicial dos EUA em novembro de 2010.
No entanto, o Congresso americano não aprovou esse apoio desde então, o que bloqueou a reforma do sistema de governo do FMI e provocou um crescente mal-estar entre os mercados emergentes.
Ao lado de Lagarde, compareceu à entrevista coletiva o governador do Banco do México, Agustín Carstens, que exerce como presidente do Comitê Financeiro e Monetário do FMI.
Carstens reconheceu que "as incertezas e a volatilidade dos mercados financeiros aumentaram, ao mesmo tempo que as previsões de crescimento de médio prazo se debilitaram".
As economias avançadas, que o executivo mexicano disse terem experimentado uma recuperação "modesta" nos últimos anos, "ainda podem sofrer uma recaída, principalmente se a demanda global enfraquecer ainda mais e os obstáculos à oferta não forem eliminados".
No âmbito latino-americano, as dúvidas se concentram sobre a grande economia regional, o Brasil, que encadeará duas recessões consecutivas em 2015 e 2016 (-3% e -1%, respectivamente).
Carstens reconheceu que o Brasil tinha sido um dos países cuja complexa situação tinha sido tratada, embora não exclusivamente, no encontro que contou com a participação dos 188 países-membros do organismo.
"A América Latina está preparada para absorver os confrontos externos, mas lembramos aos países que, apesar disso, não é o momento para ser complacente", acrescentou o banqueiro mexicano, em referência à espera da alta de taxas de juros pelo Federal Reserve dos EUA e à saída de fluxos de capital da região que estão elevando a pressão sobre as divisas locais.
Devido ao retorno da Assembleia Anual à região após quase 50 anos de ausência, Lagarde afirmou ontem que a América Latina está em um "terreno muito mais sólido" que há 15 anos, e ressaltou que a instituição também tinha modificado seu enfoque para oferecer menos receitas e mais apoio.
A última reunião do FMI na América Latina havia sido realizada no Rio de Janeiro, em 1967.