Economia

As oportunidades do Brasil em caso de agravamento da crise

A economia brasileira pode sair ainda mais fortalecida. Só depende do governo

Até o desenvolvimentista Guido Mantega está defendo controle de gastos na crise (Fabio Rodrigues Pozzebom/AGÊNCIA BRASIL)

Até o desenvolvimentista Guido Mantega está defendo controle de gastos na crise (Fabio Rodrigues Pozzebom/AGÊNCIA BRASIL)

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Da Redação

Publicado em 14 de agosto de 2011 às 19h31.

São Paulo – Tentar encontrar aspectos positivos em um cenário de crise pode parecer otimismo desvairado. Porém, no caso da economia brasileira, cujo principal problema é – ou pelo menos era até duas semanas atrás – um superaquecimento, notícias de esfriamento lá fora geram oportunidades aqui dentro.

Tudo dependerá, é claro, do tamanho do problema nos países desenvolvidos. O prognóstico dominante no mercado é de baixo crescimento das economias ricas durante um longo período de tempo. Neste caso, o Brasil poderá sofrer um pouco com a eventual queda nos preços das commodities. É o desempenho da China que ditará o ritmo.

Não está descartado, no entanto, um cenário recessivo que poderia ser desencadeado por algum problema mais sério no sistema bancário internacional. Esse filme já foi visto em 2008, quando faltou liquidez no mercado e os empréstimos secaram.

Neste caso, uma intervenção mais forte do governo brasileiro será necessária para evitar uma contaminação. A corrente dominante no mercado defende o uso da política monetária – exceto os chamados desenvolvimentistas, que não perdem a oportunidade de clamar por uma presença maior do Estado na economia. O curioso, desta vez, é que até o ministro Guido Mantega, um desenvolvimentista de carteirinha, está falando em aperto fiscal.

EXAME.com lista, a seguir, as oportunidades que o Brasil tem para colocar a economia nos eixos em caso de agravamento da crise.

1 – Desaquecimento da economia

Os números de 2010 constataram um superaquecimento da economia brasileira (o PIB cresceu 7,5%). O efeito natural foi o distanciamento da inflação em relação ao centro da meta. Antes das recentes turbulências, o debate era sobre o tamanho do aperto monetário necessário para trazer a inflação de volta à casa dos 4,5% no ano que vem. A "boa" notícia é que, se a crise piorar, o desaquecimento acontecerá naturalmente e o Banco Central não precisará mais exagerar nos juros.


2 – Reduzir os juros

Se a inflação deixar de ser um problema, estará aberta a possibilidade de o Banco Central iniciar uma trajetória de queda dos juros, aproximando um pouco (ou tornando menos distante) a nossa taxa em relação às internacionais. Isso, por tabela, dará um alívio para o câmbio.

3 – Menos gastos com juros

Como decorrência da queda dos juros, o governo gastará menos com o serviço da dívida. Naturalmente haverá uma melhoria do resultado nominal das contas públicas, o que ajudará o Brasil a ter novas elevações em sua nota de crédito pelas agências de classificação de risco. Quanto mais alto o rating, menos juros o Brasil precisa oferecer para atrair os investidores, gerando um círculo virtuoso. 

4 – Menor concentração de renda

Ainda como decorrência da queda dos juros, haverá uma redução da concentração de renda. O raciocínio é simples: para financiar os seus gastos, o governo emite títulos que são comprados por quem tem dinheiro sobrando e está interessado em receber os juros altos oferecidos no Brasil. É de se imaginar que a parcela mais rica da população é a que mais tem dinheiro sobrando e, portanto, é a que mais compra esses papéis (seja por meio do Tesouro Direto ou de fundos Di e renda fixa). Logo, quanto maior a taxa de juros, mais intensa é a concentração de renda.

Espera-se ainda que o governo cumpra a promessa de não elevar os gastos – principalmente os ligados à máquina pública que depois não podem ser revertidos. Além disso, os economistas alertam para eventuais novos exageros com empréstimos do BNDES a juros subsidiados. Na crise de 2008, o Tesouro turbinou o banco de fomento, elevando a dívida bruta do país.

Se as medidas corretas foram adotadas, dizem os analistas, o Brasil crescerá menos no curto prazo (abaixo do seu potencial, de 4%), mas sairá mais fortalecido e pronto para decolar novamente. Resta saber se o timing político permitirá.

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