Economia

As armas de patrões e empregados nas negociações salariais

26,7% das datas-base dos acordos coletivos estão concentradas neste mês

Sindicato dos Trabalhadores em Farmácias de Salvador (BA) luta por reajuste salarial (Divulgação/SINTFARMA)

Sindicato dos Trabalhadores em Farmácias de Salvador (BA) luta por reajuste salarial (Divulgação/SINTFARMA)

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Da Redação

Publicado em 9 de maio de 2011 às 10h59.

São Paulo – As negociações salariais entre patrões e empregados estão fervendo em maio e os resultados são acompanhados com lupa pela área econômica do governo federal, cuja prioridade do momento é controlar a inflação.

Um levantamento da LCA Consultores feito a partir de dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que 26,7% das datas-base de um total de 700 acordos coletivos estão concentradas neste mês. As definições terão, portanto, impacto imediato na renda dos trabalhadores e balizarão as próximas negociações.

O mês de setembro é tradicionalmente apontado como a referência do mercado, por causa das negociações salariais envolvendo importantes sindicatos (metalúrgicos, bancários e petroleiros, entre outros), mas apenas 9,3% das datas-base estão naquele mês. “Maio é o verdadeiro teste de fogo”, diz Bráulio Borges, economista-chefe da LCA.

As primeiras negociações do ano indicam que a missão dos sindicatos dos trabalhadores está mais árdua agora do que foi em 2010, quando a economia pulsava em ritmo acelerado.

Os trabalhadores da indústria calçadista de Franca (SP), por exemplo, conseguiram um ganho real de 2% em fevereiro. Há reajustes ainda mais modestos, como o da indústria de bebidas do Rio de Janeiro (0,9%) e da indústria plástica em Manaus (0,0%). “As dificuldades estão maiores, mas os sindicatos estão conseguindo pelo menos repor a inflação”, diz José Silvestre Prado, coordenador de relações sindicais do Dieese.

(LCA Consultores)


Com base na divulgação dos salários de admissão pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho), a LCA calculou que, na média, os ganhos reais deste ano até agora foram de 2% ante 6% no ano passado. “Levando em consideração que os ganhos anuais de produtividade da economia brasileira são de 1,5%, podemos dizer que os reajustes salariais estão quase neutros do ponto de vista da inflação”, explica Borges.

Patrões x empregados

O primeiro ponto que joga contra os trabalhadores - seja agora, em maio, ou em setembro - é a inflação elevada, que obriga que as discussões envolvam percentuais elevados de reajuste (veja quadro resumo na próxima página com os fatores que facilitam e dificultam a obtenção de ganhos reais neste ano).

O raciocínio é simples. Se a inflação anual fosse de 2% e os trabalhadores buscassem ganhos reais de 3%, bastaria negociar um reajuste nominal de 5%. Porém, com uma inflação de 7%, será preciso reivindicar um índice nominal de 10% para obter os mesmos 3% de ganhos reais. Embora o resultado final seja rigorosamente o mesmo (ganho real de 3%), é muito mais difícil negociar uma correção na casa de 10% do que em torno de 5%.

É exatamente esse cenário que predomina atualmente. Os dois índices de inflação mais utilizados nas negociações estão com números turbinados. O oficial (IPCA) acumula alta de 6,51% em 12 meses, enquanto o INPC registra 6,30% no mesmo período. “Isso dificulta a negociação, pois ela já parte de um patamar alto. Historicamente, quanto mais alta a inflação, menor é o ganho real”, explica José Silvestre Prado, do Dieese. As negociações de setembro, por exemplo, acontecerão no auge da inflação, que pode atingir a casa dos 8% no acumulado em 12 meses.

Bráulio Borges concorda e cita o primeiro ano do governo Lula como exemplo das dificuldades encontradas pelos trabalhadores em períodos de alta nos preços. “Em 2003, os reajustes nominais obtidos nas negociações até foram elevados, mas a inflação de 12% não permitiu ganhos reais. Pior, não houve nem a recomposição do poder de compra das pessoas.”

Outro ponto que joga contra os sindicatos dos trabalhadores é o fato de o salário mínimo não ter recebido ganhos reais neste ano (o reajuste de 6,86% aprovado pelo governo foi quase integralmente corroído pela inflação do período). Sendo assim, categorias que têm o piso balizado pelo mínimo não possuem fortes argumentos para propor índices elevados. Por outro lado, já olhando para janeiro do ano que vem, o reajuste de 14% previsto para o salário mínimo será muito favorável nas negociações de 2012.


Além disso, o desaquecimento da economia brasileira pode servir de justificativa para os empresários pisarem no freio dos reajustes. “As medidas do Banco Central começam a surtir efeito e vão desacelerar ainda mais a economia no segundo semestre”, diz Prado. Nesse contexto, fica difícil exigir dos patrões grandes aumentos quando as perspectivas econômicas são mais modestas.

Porém, ainda influenciados pelo "pibão" de 2010, os recentes balanços trimestrais das empresas trouxeram resultados positivos, e isso é uma arma de grosso calibre para os trabalhadores. “Os bancos, por exemplo, tiveram ótimo desempenho no primeiro trimestre. Os sindicatos vão destacar esses números na mesa de negociação”, prevê o coordenador do Dieese.

Os metalúrgicos apostam no ritmo acelerado de vendas de carros neste ano para colocarem as montadoras contra a parede. O economista Bráulio Borges acredita que os patrões vão tentar negociar benefícios em troca de um reajuste mais modesto dos salários. “Se o resultado da empresa está muito bom, mas as perspectivas são de desaceleração, faz mais sentido negociar participação nos lucros ou um bônus do que um aumento permanente do salário.”

Apesar de já demonstrar algum desaquecimento, a construção civil ainda tende a inflacionar o mercado de trabalho. Em Fortaleza, por exemplo, acaba de ser fechado um acordo entre patrões e empregados que prevê reajuste nominal de 10% (ganho real em torno de 3,5%).

Segundo o IBGE, a taxa de desemprego setorial da construção civil é de apenas 3% - a metade do índice geral economia brasileira, que já está em níveis historicamente baixos. Os empresários de setores que sofrem com a falta de mão-de-obra tendem a ceder mais nas negociações, já que o maior poder de barganha está do outro lado da mesa.

Veja um resumo dos pontos que estão sendo debatidos nas negociações salariais

Fontes: Bráulio Borges e José Silvestre Prado
Pontos que dificultam ganhos reais Pontos que facilitam ganhos reais
Inflação elevada no acumulado em 12 meses Balanço trimestral positivo das empresas
Pequeno ganho real do salário mínimo  Falta de mão-de-obra em alguns setores
Desaquecimento da economia brasileira Desemprego em níveis baixos


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