Economia

As 3 forças por trás da queda da pobreza no Brasil

Trabalho do Banco Mundial destaca que crescimento estável foi o principal responsável pela queda notável da pobreza entre 2001 e 2013


	Família pobre que mora em casa de taipa na Paraíba
 (Ana Nascimento/MDS)

Família pobre que mora em casa de taipa na Paraíba (Ana Nascimento/MDS)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 22 de abril de 2015 às 15h31.

São Paulo - "O Brasil foi bem sucedido em reduzir a pobreza de forma significativa na última década", diz um relatório sobre América Latina lançado este mês pelo Banco Mundial.

A pobreza foi de 24,7% da população em 2001 para 8,9% em 2013, enquanto a pobreza extrema caiu de 10% para 4% no período. A desigualdade medida pelo índice Gini também caiu: de 0.59 em 2001 para 0.53 em 2012, .

Vale lembrar que a referência utilizada é a dos programas Bolsa Família e Brasil sem Miséria: pobreza extrema é abaixo de R$ 70 por pessoa por mês (a chamada indigência) e pobreza é abaixo de R$ 140, também per capita mensal.

A medida por fatores não-monetários e outros tipos de privação também mostra uma queda substantiva. O relatório é assinado por Javier E. Báez, Aude-Sophie Rodella, Ali Sharman e Martha Viveros.

Quedas

Uma análise do período entre 2001 e 2012 mostra que o crescimento econômico foi responsável por dois terços da queda da pobreza no Brasil. E a renda do trabalho, especialmente nos estratos mais baixos, foi a principal força.

O PIB per capita cresceu a uma média de 0,18% anuais nos anos 80, acelerando para 0,80% nos anos 90. Entre 1999 e 2012, pulou para 2,3% por ano.

A segunda força por trás da redução da pobreza no Brasil foi um "foco de políticas mais forte" no tema. Isso inclui programas de longa escala de transfêrencia e redistribuição - o mais importante deles sendo o Bolsa Família.

A terceira força foi a dinâmica do mercado de trabalho, com criação de vagas, aumento da formalidade das taxas de participação na força de trabalho e dos salários, puxado por altas periódicas do salário mínimo.

Convergências

A queda da pobreza foi verificada em (quase) toda a América Latina, mas o Brasil se saiu um pouco melhor que a média. Em 1999, nossa taxa de pobreza era mais ou menos a mesma da região (43%), mas em 2012 ela já era significativamente menor (20,8% contra 25%).

"No total, os 27 milhões de brasileiros que saíram da pobreza entre 1999 e 2012 respondem por metade das pessoas que abandonaram a pobreza na região", diz o relatório.

Outra boa notícia é que mesmo dentro do Brasil, está ocorrendo uma convergência, com queda maior nos estados com pobreza mais alta.

Entre 2001 e 2012, a queda absoluta da pobreza foi de 28 pontos percentuais no nordeste e de 13,3 pontos no sudeste. Enquanto isso, a diferença relativa da pobreza entre áreas rurais e urbanas também caiu, de 30,3 para 17,7 pontos percentuais.

Também melhorou a capacidade de subir de vida. Entre 1990 e 2009, 60% da população do país escalou pelo menos um degrau entre os grupos de renda, acima da média de 41% nesse quesito na região. Mas alguns grupos são mais móveis do que outros:

"Ainda há uma forte correlação entre mobilidade econômica e êxito educacional, gênero do(a) chefe de família, raça, local de residência e tipo de emprego (formal ou informal)", diz o relatório.

Desafios

Apesar dos avanços, o caminho é cheio de desafios. A desaceleração do crescimento (com recessão este ano) é uma péssima notícia, já que foi ele a maior força por trás da redução da pobreza.

18 milhões de brasileiros continuam pobres e 27 milhões estão em situação vulnerável, ou a um salário de distância da volta para a pobreza, um risco maior em tempos de crise econômica como o atual. E permanecem as diferenças brutais entre as regiões do país e entre aqueles com diferentes níveis educacionais. 

Para continuar reduzindo a pobreza - e estimular o crescimento tão necessário - o Banco Mundial recomenda três focos: sistema fiscal mais progressivo, melhora dos serviços básicos e mexer nos obstáculos que emperram nossa produtividade, .

Acompanhe tudo sobre:Banco MundialCrescimento econômicoDesenvolvimento econômicoPobrezarenda-pessoal

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto